Professores falam da Iha de Mosqueiro, destino certo no verão
Localizada há cerca de 86 quilômetros do centro de Belém, a Ilha de Mosqueiro é um dos principais destinos durante as férias escolares. Milhares de pessoas são esperadas na Ilha a cada final de semana, entre moradores locais e turistas que vêm de cidades próximas. A história e os atrativos da ilha são objeto de pesquisa de Maria Goretti Tavares, coordenadora do projeto Roteiros Geoturísticos, e Eduardo Brandão, do Laboratório de Avaliação e Medidas do Instituto de Ciências Exatas e Naturais, ambos da Universidade Federal do Pará (UFPA).
“São mais de 30 quilômetros de areia banhada pelo rio num colar de 22 praias. Em momentos de preamar, principalmente quando os ventos estão fortes, as águas doces ficam bravas e formavam ondas típicas de praias oceânicas, na maioria delas é quase impossível avistar a outra margem. O fascínio [dos turistas] era tanto que algumas pessoas chegavam a provar a água para se certificarem da ausência do sal - não acreditavam que se tratava de praia de rio”, comenta Eduardo Brandão.
Nas praias, o vento forte torna o clima tropical mais agradável e as ondas permitem a prática de esportes, como o surf, no lugar. Para saber mais sobre as praias de Mosqueiro, acesse o blog Mosqueiro-Pará-Brasil, do pesquisador Eduardo Brandão.
Turismo é marcado pelas “segundas residências” - Os pesquisadores da UFPA explicam que, historicamente, as praias têm sido o principal atrativo da Ilha e que o turismo em Mosqueiro se caracteriza pelo chamado turismo de segunda residência, ou seja, famílias constroem no lugar uma moradia a qual é frequentada em feriados e épocas de férias, em geral, mas no restante do ano o lugar ainda é pouco visitado.
“Foi na época da borracha, no final do século XIX e inicio do século XX, que a burguesia estrangeira e natural de Belém gerou a demanda por cultura, lazer e turismo. Temos em Belém a construção do Theatro da Paz e a construção de casas de praia em Icoaraci e em Mosqueiro. Esses chalés, casarões e sobrados se localizam na orla e trazem características europeias daquele período histórico”, explica Maria Goretti Tavares.
Para a geógrafa da UFPA a referência para o turismo foi intensificada na década de 1970 com a construção da ponte que liga, por terra, o distrito de Mosqueiro ao resto da cidade de Belém, apesar do trajeto escolhido para a construção da rodovia ter sido o mais longo.
Ao longo do tempo, Mosqueiro se tornou referência como um lugar bucólico. “As famílias continuam preferindo Mosqueiro como destino para as casas de veraneio, pois ela preserva sua natureza bucólica aliada à beleza das praias. Em Mosqueiro temos um modo de vida mais calmo e tranquilo, ambiente familiar onde ainda se senta na praça para conversar”, considera Maria Goretti Tavares.
Outras atrações de Mosqueiro - Já o pesquisador Eduardo Brandão, que estuda e vive em Mosqueiro, não deixa de citar que a Ilha reúne todos os elementos simbolicamente associados à Amazônia. “Temos, além das praias de água doce, rios de até um quilômetro de largura e igarapés que cortam a ilha, temos uma floresta em uma Área de Preservação Ambiental e ainda a história dos casarões construídos na época da borracha, além da cultura apreciada na culinária, por exemplo. Não tenho dúvidas do potencial turístico inexplorado de Mosqueiro, mas precisamos do apoio do Estado e da iniciativa privada para transformar a Ilha num destino turístico o ano inteiro, em um destino consolidado.”
Maria Goretti Tavares explica que o turismo patrimonial, religioso e o ecoturismo são opções para Mosqueiro. “As ruas e casarões que datam da época da borracha e o ‘outro lado da ilha’, onde as comunidades ainda vivem mais tradicionalmente, são pontos que ainda são pouco explorados em Mosqueiro.”
A pesquisadora cita a culinária e a cultura que estão além das famosas e muito apreciadas tapioquinhas e do peixe de Mosqueiro. “Antes tínhamos os pirulitos de mel e de maracujá que eram feitos ali e todo o imaginário das ‘varinhas do amor’, que eram gravetos nos quais as pessoas gravavam o nome e presenteavam alguém. Quem as recebia teria sorte em geral e também no amor. Práticas que, infelizmente, se perderam.”
Curiosidades - Um dos lugares históricos abertos para a visitação é a Paróquia de Nossa Senhora do Ó (ou Senhora do Ó), padroeira de Mosqueiro e a Praia do Chapéu Virado. “Esse é um dos cultos à Maria mais antigos e tem a particularidade de apresentar a mãe de Jesus grávida. É uma das poucas imagens no Brasil de Maria ainda gestante, na Igreja temos algo escrito sobre isso. Outro ponto histórico é a Praia do Chapéu Virado, que foi palco de uma sangrenta batalha durante a Cabanagem, mas não temos nenhuma informação sobre isso disponível lá na praia”, lamenta Eduardo Brandão.
Outra curiosidade é que Mosqueiro foi a sede da primeira fábrica de pneus do Brasil, na década de 1930, “mas a fábrica é um propriedade particular e não pode ser visitada. Sua história, porém, deveria ser mais conhecida”, questiona o pesquisador da UFPA.
Falta de investimentos prejudica Mosqueiro – Os pesquisadores também lamentam que a Ilha seja visitada apenas na época do verão. “Normalmente, 30 mil pessoas vivem na ilha, mas no verão há uma população flutuante de até 500 mil pessoas. Mosqueiro não tem infraestrutura urbana para receber todas estas pessoas de uma vez apenas. O ideal seria receber menos pessoas durante o verão e distribuir esse turismo ao longo do ano”, defende Maria Goretti Tavares.
Pesquisador da problemática existente em orlas fluviais e esturinas, Eduardo Brandão também explica que a ocupação irregular e desordenada da orla e a invisibilidade dos fatores ambientais no processo de ordenamento territorial prejudicam o desenvolvimento sustentável na Ilha. “Pela legislação municipal (Plano Diretor), é proibido construir qualquer coisa numa área de cem metros, a contar a partir da preamar para dentro. Porém casas e barracas continuam sendo erguidas e as praias estão maltratadas por essa ocupação. Barracas construídas sem qualquer qualidade, banheiros com fossa na areia. É triste.”
Problemas ambientais na ilha também poderiam ser combatidos com informação - É o que defende o pesquisador: “Tudo é construído nas praias sem conhecimento sobre a geomorfologia e morfodinâmica das águas, o resultado disso são barracas afundando e erosão em alguns trechos da orla. Por outro lado, sem um Plano de Manejo da Área de Preservação de Mosqueiro, o lugar que tem o tamanho de mais de 20 bosques Rodrigues Alves não pode ser visitado e temos situações em que as pessoas entram na reserva para caçar pássaros e retirar árvores, o que é proibido. A única forma de manter uma floresta em pé é agregar valor à ela e incentivar o turismo ecológico ou de base comunitária na área.”
Eduardo Brandão acredita que a construção de empreendimentos turísticos como uma Casa de Memória de Mosqueiro poderia ajudar a revelar a importância do lugar. “E se um dos casarões pudesse ser utilizado para mostrar como era o veraneio em Mosqueiro há cem anos atrás? Este lugar poderia ter uma biblioteca, elementos multimídia para revelar essa história, indicações de roteiros turísticos para a Ilha e espaço para apresentações de grupos folclóricos”, sugere.
Texto: Cléo Viana e Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Reprodução / Google
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