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UFPA perde Jean Hébette, um de seus pesquisadores mais destacados

A Universidade Federal do Pará perdeu, nesta sexta-feira, 11 de novembro, um de seus mais destacados docentes e pesquisadores, o professor Jean Hébette. (15 de fevereiro de 1925 - 11 de novembro de 2016). Ao longo de mais de trinta anos de trabalho na Instituição, o professor Jean Hébette contribuiu sucessivamente com o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA); o Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural (NCADR); e com o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), na UFPA, construindo uma obra sólida e coerente sobre o campesinato na Amazônia. O seu falecimento, aos 91 anos de idade, ocorreu na Bélgica, seu país de origem.

“O belga Jean Hébette passou 46 anos na Amazônia. Chegou a Belém em 1967, já com 42 anos, na condição de missionário da Ordem dos Oblatos de Maria Imaculada. Ordenou-se sacerdote na Bélgica, aos 24 anos, e acumulou doutorados em Filosofia e Teologia na França. Com esses títulos, partiu para sua primeira missão, na África. Atuou no Zaire, Burundi e Ruanda. Em Belém, voltou aos bancos escolares para conquistar a Graduação em Economia.

Mal terminou a especialização, em 1973, para iniciar, no ano seguinte, uma carreira tão fecunda como pesquisador e escritor que se tornou um dos mais prolíficos intelectuais da Amazônia, concentrando sua atenção sobre o mundo rural e, nele, o camponês. Abriu uma nova senda nesses estudos na região, dando-lhes, com sua qualidade acadêmica (de poucos títulos de saber carimbados), projeção internacional” (leia mais aqui).

O perfil é de autoria de Lúcio Flávio Pinto e Gutemberg Armando Diniz Guerra, que foi orientando de Jean Hébette e é também professor da UFPA e autor  de diversas resenhas sobre a obra de seu mestre. Uma delas, O lavrador e posseiro da ciência: uma publicação sobre as complexas relações entre informação, conhecimento e desenvolvimento sobre o Brasil atual, pode ser conferida aqui.

As últimas orientações de Jean foram realizadas no então Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais - que auxiliou a instituir em 2003 e pelo qual formou Edma do Socorro Silva Moreira (2008), hoje, docente na UNIFESSPA; e Sônia Maria Simões Barbosa Magalhães Santos (2007), da UFPA. No cenário regional, trabalhou com destacados pesquisadores, entre eles: Rosa Acevedo, Albertina Fortuna de Oliveira, Samuel Sá, Raul Navegantes, Edna Maria Ramos de Castro, Maria de Fátima Carneiro da Conceição, Violeta Refkalesfsky e Raymundo Heraldo Maués. No cenário nacional e internacional, é referência quando o assunto é Amazônia.

Para a antropóloga e pesquisadora da UFPA Jane Felipe Beltrão, Jean Hébette foi uma fonte de aprendizado, bem como para muitos outros que têm a Universidade Federal do Pará como locus de trabalho. “Creio que, em cada unidade acadêmica da UFPA, temos profissionais formados ou influenciados por Jean, poucos como ele romperam tantas fronteiras na Amazônia e cuidava da articulação das áreas de conhecimento conforme as necessidades exigiam, ia da arquitetura à agronomia”, observou.

Segundo Flávio Bezerra Barros, atual diretor-geral do NCADR/UFPA, o professor Jean Hébette foi fundamental para a criação do curso de Especialização em Agricultura Familiar e Desenvolvimento (DAZ), que até hoje forma pessoas no atual Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural da UFPA, unidade acadêmica da qual o professor Jean foi um dos principais fundadores.

Na sua extensa produção bibliográfica, há mais de 100 títulos em que Hébette foi autor ou coautor, entre eles, o aclamado Cruzando a fronteira: 30 anos de estudo do campesinato na Amazônia

“O pensamento e o ideal deste ilustre professor e pesquisador foram e continuarão sendo o alicerce de uma quantidade sem fim de estudantes, pesquisadores e quaisquer pessoas que se interessem pelo tema do campesinato na Amazônia. Suas obras, incluindo o épico Cruzando a fronteira, estarão sempre entre nós, servindo como guias. A primazia de sua obra, mas, sobretudo, sua humildade, rigor científico e espírito de engajamento estarão vivos entre nós”, disse Flávio Bezerra, em nota de pesar.

O professor doutor Alex Fiúza de Mello, além de amigo de Hébette, ex-reitor da UFPA e atual secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Pará, destacou que a obra do pesquisador será para sempre referência na Amazônia.

"Jean Hébette é parte da história da UFPA pelo trabalho acadêmico sério e engajado, um de seus constituintes. Suas pesquisas - sobretudo sobre o campesinato na Amazônia - se traduzem numa obra consistente e referência para as futuras gerações. Lega, com sua rica trajetória, além de livros a artigos científicos, instituições acadêmicas que, na Universidade, ajudou a fundar e consolidar, como o NAEA, o NEAF e os núcleos de formação, pesquisa e extensão no sudeste do Estado e na transamazônica. Por tudo, merece destaque na memória institucional e das Ciências Sociais da região e do País - além daquela que, no silêncio, partilha as mentes e corações dos que, em vida, gozaram de sua presença e amizade", afirmou Fiúza de Mello.

Hébette atuou, ainda, como militante na luta dos camponeses amazônidas. “Tinha Belém por endereço e Marabá como campo de combate às injustiças, estas praticadas contra os camponeses e seus apoiadores no universo do Araguaia Tocantins, em plenos Anos de Chumbo. Somos gratos pelo muito que fizeste e seremos eternamente agradecidos pelo que construíste pela Amazônia. Você foi o belga mais engajado que a Amazônia conquistou”, despediu-se a antropóloga Jane Beltrão, em artigo que será publicado na íntegra na próxima edição do Jornal Beira do Rio.

Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Reprodução / Google

Publicado em: 13.11.2016 13:45