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Pesquisadores da UFPA participam da construção de um currículo Kaapor

A Etnia Indígena Kaapor vive ao longo do Rio Gurupi, na fronteira do Pará com o Maranhão, e busca um projeto de educação que valorize sua língua e sua cultura.  E foi a resistência desses índios ao modelo de educação promovido pelo Estado do Maranhão e a busca por um currículo que preserve a cultura indígena, que sensibilizou pesquisadores da Universidade Federal do Pará, que passaram a contribuir com a elaboração de um currículo kaapor. Entre os pesquisadores envolvidos no projeto está o professor José Guilherme Fernandes, da Faculdade de Letras, do Campus Castanhal.

“Esse projeto surge da demanda da própria etnia, do próprio coletivo dos indígenas. O grupo Kaapor habita a terra indígena alto Turiaçu e existem cerca de 10 aldeias nesse território. Uma parte do território, diria que a maioria, 70% dele, solicitou essa contribuição”, conta José Guilherme, que também esclarece que o projeto começou de forma não intencional.

“Primeiramente era uma contribuição eventual, por meio de uma professora do Programa de Pós-Graduação em Linguagens e Saberes na Amazônia, do Campus de Bragança, que havia feito doutorado e estudado a língua kaapor. Ela nos convidou para participar de um encontro, em 2014, que nos proporcionou a possibilidade de conhecer a realidade dessa comunidade. A partir daí, verificamos a necessidade de colaborarmos, já que no próprio Estado do Maranhão existe uma certa ausência das Universidades, dos Institutos Federais em relação a colaborar com uma construção de um projeto pedagógico próprio.”

Preservação da língua indígena - E a busca pela construção de um currículo Kaapor se revela como uma oportunidade para índios e pesquisadores garantirem a preservação da língua indígena, o que, na opinião do professor José Guilherme, é essencial para a manutenção da própria cultura, já que o kaapor é falado por mais de 2 mil pessoas no Brasil e na região do Gurupi há indígenas que só se comunicam em kaapor.

“O que existe é uma determinação de que a educação básica deve ser gerenciada e promovida pelo Estado, só que o estado quer impor uma proposta feita pelo estado, feita pela burocracia do estado, mas que os kaapor resistem, porque eles querem respeito à identidade deles, à cultura, ao bilinguismo, uma vez que o Brasil, infelizmente,  é um dos únicos países da América do Sul em que as línguas indígenas não são reconhecidas como línguas oficiais nos seus territórios. A única língua oficial do Brasil é o português, o que é um absurdo quando você vê que existem mais de 180 línguas indígenas vivas faladas no país”, afirma José Guilherme Fernandes.

Etapas - O professor também explica que nessa primeira fase do projeto, está sendo trabalhado o currículo referente à educação básica dos kaapor, mas a ideia é certificar o novo currículo e avançar mais uma etapa.

“Essa é uma primeira luta, porque eles estão concluindo agora o ensino fundamental, a próxima luta é criar uma proposta para o ensino médio em que haja formação concomitante”, esclarece José Guilherme, que conclui destacando a complexidade do currículo que está sendo proposto.

“Eles têm um projeto que se chama Aprendendo com a Floresta, porque para os kaapor a floresta é o grande espaço de conhecimento. Esse projeto já está pronto, mas precisa de alguns ajustes. É exatamente aí que a gente entra, realizando ajustes de caráter metodológico e etnográfico. Pensamos em como promover o conhecimento a partir da observação da natureza e isso requer uma percepção, por isso que é um trabalho epistemológico também, no sentido de quem está perguntando, afinal, o que é o conhecimento?”

Conhecimentos - Perguntas que a estudante de Letras, Isabela Santos, que participa do projeto, vem procurando responder. Conhecimentos que, para ela, tem proporcionado novos horizontes.

“Eu aprendi muito com isso, olhar pra minha própria cultura, ver as culturas que são externas à minha, olhar pra elas, aprender um pouco sobre elas, porque é muito importante conhecer as outras culturas, mas manter a minha e é isso que eles querem. Aprender a língua portuguesa, mas ao mesmo tempo manter a cultura deles”

Texto: Etiene Andrade – Ascom / Campus Castanhal
Fotos: Acervo do pesquisador

Publicado em: 03.01.2017 18:00