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Professor da USP avalia meios eletrônicos e educação


 O projeto “Um Laptop por Criança”, oferecido pela ONG OLPC (Organização Não-Governamental One Laptop Per Child) a vários países e, no final do ano passado, também ao Brasil, consiste em distribuir computadores pessoais portáteis a cada estudante de países em desenvolvimento. No entanto, seria esse programa uma forma efetiva de propiciar mais conhecimento e desenvolvimento intelectual às crianças e aos adolescentes e melhorar o seu rendimento escolar? Segundo o professor Valdemar Setzer, titular do departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, a resposta é não.  
 
Os meios eletrônicos e o seu impacto sobre a educação têm no professor Valdemar Setzer um dos seus mais obstinados críticos. Em seu exaustivo trabalho de pesquisa, ele estuda a influência que a TV, o computador e os jogos eletrônicos exercem especialmente sobre as crianças. A sua posição é: <<Deixem as crianças serem infantis, não lhes dêem acesso a TV, jogos eletrônicos e computador!>>.
 
Em sua conferência na 59ª Reunião Anual da SBPC, Uma Análise Crítica do Projeto “Um Laptop por Criança”, Setzer faz uma avaliação desse programa, mostrando inicialmente que ele não é acompanhado por nenhum projeto educacional específico: a mentalidade é a de que <<computador no ensino é bom, ponto final>>. Em seguida, são abordados dois aspectos: o local, isto é, por que ele é inapropriado para o Brasil; e o universal, válido para qualquer uso de computadores por crianças e jovens.

 No primeiro caso, são mostrados vários fatores que deveriam impedir esse projeto de ser concretizado entre nós, tal como a questão fundamental das prioridades dos gastos públicos com educação: no Brasil, há prioridades muitíssimo mais urgentes, como a melhoria dos salários dos professores e seu melhor preparo didático, a melhoria das condições das escolas etc. Quanto aos fatores universais, Setzer, desde 1976, tem-se mostrado decididamente contra o uso de computadores por crianças e jovens pelo menos até os 15 anos de idade. Justifica-se contrapondo o fato de o computador ser uma máquina matemática, que exige o uso de linguagem e pensamento formais, lógico-simbólicos, ao desenvolvimento da criança e do jovem segundo a conceituação e prática da pedagogia Waldorf. “Nessa conceituação, o pensamento e a linguagem formais impostas pelo computador são impróprias para crianças e jovens, prejudicando um desenvolvimento intelectual harmônico com o resto de seu desenvolvimento”, diz o professor. “Essa conceituação é corroborada por resultados de pesquisas que mostram que, estatisticamente, quanto mais uma criança ou jovem usa um computador, pior o seu rendimento escolar”, finaliza.

 
Publicado em: 09.07.2007 12:44