A tarde desta terça-feira, 28 de março, foi marcada por excelência e resistência indígena para o Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da UFPA. Uwira Xakriabá, docente indígena, o único incorporado pela UFPA em seu quadro docente, é o mais novo mestre em Antropologia da Universidade. Ele defendeu a dissertação intitulada Cachaça, Concreto e Sangue! Saúde, Alcoolismo e Violência: Povos Indígenas no Contexto da Hidrelétrica de Belo Monte. O evento ocorreu no auditório do PPGA e contou com a presença de diversos membros da comunidade acadêmica.

Tema - O trabalho apresentado evidencia a perspectiva das sociedades indígenas do Médio Xingu acerca da construção da Hidrelétrica de Belo Monte e analisa os malefícios à saúde das pessoas indígenas, por meio do barramento do rio sagrado da cosmologia xinguense.

Segundo Uwira Xakriabá, esses agravos são gerados pelo “uso abusivo de álcool e de um renovado processo de múltiplas violências contra os povos indígenas inaugurado pelo depósito do concreto que encerra o sangue dos parentes gerado pelas violações, pelo suicídio e pela intensificação do racismo capturados nas malhas da hidrelétrica que desrespeitou os direitos étnicos resguardados pela legislação nacional e internacional.”

Destruição - Emocionado, o autor da dissertação fez uma analogia. "Para a sociedade brasileira, predominantemente católica, ter noção do que significa este empreendimento para as sociedades indígenas, basta compará-lo à construção de uma boate no vaticano ou uma sapataria no muro das lamentações."

“Com o anúncio da obra, o número de homicídios e de alcoolismo aumentou, pois, para os indígenas, ela representa o fim do mundo. É como se nossas vidas estivessem suspensas. Queria me aprofundar mais, mas cheguei ao meu limite. Morro um pouco com o Xingu”, revelou. 
 
Avaliadores - A banca avaliadora foi composta pelas professoras doutoras Jane Beltrão, orientadora da dissertação; Katiane Silva, Patrícia Melo Sampaio, da Universidade Federal do Amazonas; e pelo professor doutor Márcio Couto Henrique.

Para Patrícia Sampaio, a dissertação alcançou níveis de excelência. “Poucas vezes, vi uma apropriação de conceitos e categorias tão bem realizada. Esta é uma das bancas mais incríveis de que eu participei em toda minha vida”, assegurou.

Jene Beltrão, colega de docência e orientadora do estudante, emocionada, demonstrou sua gratidão em participar desta parceria. “Tudo que dissermos é pouco comparado a tudo que o Uwira nos contou esta tarde. É um privilégio tê-lo como colega e orientando. Tudo é um privilégio, menos a possibilidade de Belo Monte", concluiu.  

Texto: Edielson Shinohara - Assessoria de Comunicação da UFPA.
Fotos: Adolfo Lemos

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