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Faculdade de Comunicação lembra o Golpe Militar de 1964

Nesta sexta-feira, 31, data do aniversário do Golpe Militar de 1964, a Faculdade de Comunicação (Facom) realizou o debate “Histórias da ditadura, 53 anos depois do Golpe”, em parceria com o Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos e a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Pará. O evento foi realizado no Auditório Rio Guamá, da Coordenadoria de Capacitação e Desenvolvimento da UFPA (Capacit).

Voltado a discutir as formas de violação dos direitos humanos, praticada pelo regime militar brasileiro, o evento trouxe à tona uma das mais condenáveis dessas práticas: o sequestro de crianças por agentes da ditadura que eram doados para adoção por famílias de militares. Autor do livro Depois da Rua Tutoia, o jornalista paulista Eduardo Reina, que compôs a mesa do evento, apresentou vários dos casos que vêm pesquisando, de sequestro de crianças naquele período que aconteceram no Pará, diretamente vinculados à região em que se desenrolou a Guerrilha do Araguaia.

A mesa do debate foi coordenada pela professora Rosaly Brito, da Faculdade de Comunicação, e coordenadora do Projeto de extensão “Trama coletiva: por uma outra cultura de comunicação”, responsável pela realização do evento, pelo presidente do Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos, Paulo Fonteles Filho, e pela advogada Thaís Peixoto, da Comissão de Direitos Humanos da OAB.

Depois da Rua Tutoia  - No início do debate, foi exibido o book trailer de Depois da Rua Tutoia, um romance baseado na pesquisa de Reina sobre bebês desaparecidos na ditadura. Na mesa, foram apresentados seis casos reais de crianças afetadas por esse período. Um deles foi a dolorosa experiência vivida por Paulo Fonteles Filho, que nasceu enquanto seus pais estavam presos: “Para a minha mãe, o único modo de enfrentar aqueles lobos foi me dar à luz”, afirmou, emocionado. 

Durante o debate, foram abordados, também, os limites da apuração feita Comissão da Verdade nacional, que não abrangeu os casos de sequestros de crianças ocorridos no pós-64, silenciando sobre o tema. Essa prática foi muito comum em outras ditaduras latino-americanas, como na Argentina, onde se registraram 500 casos, no Uruguai e no Chile. Segundo Eduardo Reina, as ditaduras do continente tiveram, basicamente, o mesmo modus operandi, por isso causa estranheza que os casos de sequestros de criança que ocorreram no Brasil, até hoje, não tenham sido apurados. Uma parte dessa lacuna, ele tenta preencher com o trabalho de investigação jornalística que desenvolve há algum tempo e, desta vez, devem resultar em um livro reportagem que denuncie esses fatos.

A atual situação política brasileira e a prática recorrente de violência policial, que vitima, principalmente, jovens moradores das periferias das grandes cidades brasileiras, foram apontadas, durante o debate, como frutos da cultura de violência e de afronta aos direitos humanos que se perpetuaram no País desde a ditadura.

O evento contou com estudantes de Comunicação Social, de Direito e com outros interessados no assunto. Um dos participantes, Renan Monteiro, aluno de Jornalismo, comentou como esse evento é importante: “Este tipo de evento é muito importante para nós, jovens, que precisamos conhecer mais sobre todo o processo dos anos de ditadura militar”. O mestrando Tarcizio Macedo, do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM), realçou como essa discussão é indispensável: “É um resgate necessário de se fazer na historia do País. O acesso à informação dessa memória do que aconteceu no período da ditadura no Brasil é supernecessário para que a gente não repita esses erros no futuro”, comentou.

Educação pela memória – A professora Rosaly Brito, ressaltou que “a gente precisa ativar essa memória para que os jovens que estão na universidade, hoje, possam ter contato com a barbárie que foi o Regime Militar, com todo o arbítrio  e todas as violações dos direitos humanos praticadas, para que vejam o quão importante é fortalecer a experiência democrática no Brasil”.

“Filho desta raça não deve nascer” – Essa frase, pronunciada por um dos guardas da prisão em que a mãe de Paulo Fonteles Filho, Hecilda Veiga, lhe deu à luz, continua a ecoar e a indigná-lo ainda hoje. Para o presidente do instituto que leva o nome de seu pai, Paulo Fonteles, que foi deputado pelo PC do B e assassinado em junho de 1987, a importância de debates assim está não somente na divulgação da informação, mas também no cumprimento de um dever: “Eu me sinto parte da história do Brasil, porque é não apenas a história individual, mas também a história recente do País, da violência do Estado, da ditadura militar, de um período tão sombrio sobre o povo brasileiro, sobre os trabalhadores, sobre a juventude e a infância brasileira. Então, eu tenho que falar sobre isso, porque essa é a minha tarefa”.

Isso me diz respeito – A série de debates, originada no Projeto Trama Coletiva (antes intitulado Facom 4.0), tem o objetivo de debater entre os alunos de Comunicação assuntos relevantes que afetam a vida social, com abordagens históricas, sociais e políticas: “Nesse meio tempo, a gente já discutiu várias coisas, como diversidade de gênero e raça, a questão da redução da maioridade penal (leia mais aqui). Discutimos, também, no ano passado, a questão da censura e a relação entre o cenário político e a mídia no processo do impeachment da Dilma. Então, a gente vem trazendo e colocando em pauta uma série de questões que está na ordem do dia da vida social e interessam muito de perto aos alunos de Comunicação em geral”, relata a professora Rosaly, também vice-diretora da Facom.

Texto: Alice Palmeira – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Alexandre Moraes

Publicado em: 31.03.2017 18:00