Cientista político questiona se “todo político é realmente mentiroso”
“Todo político é mentiroso!”. Apesar de a generalização ser quase unânime, existe uma parcela das personalidades políticas que não se enquadra no perfil “charlatão”. Nesta segunda reportagem do UFPA em Série-Mês da mentira, perguntamos a um pesquisador de Ciência Política se, afinal, todo político é realmente mentiroso? Confira a seguir...
Edir Veiga, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Pará (UFPA), especializado em comportamento político, garante que nem todo político é mentiroso e os problemas políticos podem estar dos dois lados da urna.
Nem todo político é mentiroso! - Segundo Edir Veiga, alegar que todo político é mentiroso “é uma informação que o senso comum tem, principalmente em momentos de grandes escândalos envolvendo a classe política brasileira. Somam-se ao quadro vários valores negativos da categoria, seja devido ao descrédito por aqueles que não conseguiram cumprir promessas de campanha , seja pela experiência negativa que determinado número de eleitores teve com políticos”.
Mas se as opiniões negativas dos eleitores sobre os políticos podem estar ligadas a experiências negativas, por outro lado, simplesmente generalizar a classe política e estigmatizá-la pode “sinalizar uma visão mais rasteira do que significa a participação do político no destino da sociedade”, diz o professor.
É preciso saber o papel de cada um para identificar os mentirosos - Mas para identificar políticos mentirosos, a população deveria ter mais conhecimento sobre os cargos públicos e a divisão de tarefas entre eles. É preciso saber diferenciar os políticos que ocupam cargos no executivo (como prefeitos, governadores e presidentes) e aqueles que são parlamentares (vereadores, deputados estaduais e federais ou senadores). Os primeiros são mais fáceis de serem avaliados. Enquanto os chefes do executivo administram os serviços e definem sobre aplicação de recursos, por exemplo, os políticos parlamentares propõem, discutem e aprovam leis, entre outras funções.
Para Edir Veiga, pode ser mais fácil acompanhar os trabalhos de um político executivo em relação às atividades desenvolvidas por um parlamentar.
Desconhecimento gera dificuldades para observar políticos - “O eleitor vai querer que o político não apenas fiscalize, mas também quer que o deputado leve o asfalto, melhore a escola, resolva seus problemas imediatos, desconhecendo que o deputado não tem esse poder orçamentário, por exemplo. Por isso, por vezes, os parlamentares são cobrados por algo que não tem atribuições como construções, obras e prestação de serviços”, complementa Edir Veiga.
Como o eleitor não conhece o sistema político do Brasil, então mede o candidato pelo nível de resposta que recebeu em relação às expectativas que tinha ao votar. “Depois de eleger um candidato, ele olha para a rua, para o seu bairro, para a sua cidade e vê que está ruim e, então, não culpa somente o prefeito. Culpa todos os políticos”.
O pesquisador reforça que não existem desculpas para a corrupção e as mentiras políticas. “Se ele estiver trabalhando para a melhoria da comunidade, será reconhecido por quem o colocou lá. Quando ser um mau representante é uma opção do candidato, como parte de seu caráter, ele é facilmente reconhecível”, acredita.
Internet e redes sociais são instrumentos contra as mentiras eleitorais – Para Edir Veiga, apesar das dificuldades do sistema eleitoral, o eleitor jamais deve abrir mão do voto consciente. O cientista político da UFPA reforça que os meios de comunicação são ferramentas importantes para fiscalizar candidatos eleitos e definir em quem votar.
Para isso,é possível observar a página do facebook do candidato, analisar os sites dos poderes legislativo e executivo e, ainda, consultar os gastos dos parlamentares e gestores no Portal da Transparência. “O eleitor pode fazer um balanço das aparições positivas e negativas dos candidatos. E, com esse aprendizado, avaliar a qualidade de cada um, sua história e compromisso com a integridade das ações, até encontrar um com o perfil mais próximo daquele que merece seu voto.”
A história de um mau e de um bom político - Nossa história começa na campanha, quando o candidato faz propagandas grandiosas, apenas para conseguir votos, mas conquista a confiança das pessoas e chega ao cargo desejado. Porém, quatro anos depois, o tal político não cumpriu sequer um terço do que prometeu e demonstra que se trata de “um político populista, sem critérios de campanha e - por que não dizer -, mentiroso”, resume o pesquisador da UFPA.
Por outro lado, há políticos comprometidos de fato com seu eleitorado, que trabalham para se destacar, cuidar de sua base de apoio nas comunidades e levam resultados concretos a quem os elegeu.
É uma vertente que Edir Veiga assegura: “Eles existem! Isso porque, de uma forma geral, na classe política, como outras categorias profissionais, existem aquelas pessoas sérias e outras que não são. Por isso é preciso dizer que chamá-los de mentirosos não resolveria a complexidade desse fenômeno.”
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Texto: Victor Oliveira e Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA
Ilustrações: Reprodução / Google
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