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A família e os sentimentos modernos

As mudanças impostas pela modernidade alteraram a sociabilidade humana de forma definitiva, mudando a forma como vivemos e interagimos com instituições como a família, a igreja e o casamento. Discutir a nova configuração da família perante as transformações da sociedade moderna foi o objetivo da mesa-redonda <<Família e Sentimentos Modernos>>, ocorrida durante a Reunião Anual da SBPC em Belém.
A socióloga Maria Angela de I’Incao (UNESP) acredita que as mudanças econômicas e sociais do capitalismo alteraram de forma significativa a dinâmica e a estrutura familiar no decorrer do século XX. <<O ser humano, de um modo geral, passou a sentir necessidade de realização pessoal mais imediata. Essa realização simboliza a ascensão do individualismo na sociedade moderna>>, afirma Maria Angela. O desejo de realização individual implica em uma quebra da dinâmica familiar, que tradicionalmente funcionava em favor de uma realização coletiva.
Maria Angela também destacou o surgimento do amor como elemento fundamental para a união das pessoas na modernidade. A partir do momento em que o amor se torna condição para um matrimônio, os indivíduos envolvidos passam a ter maior autonomia sobre o destino dessa união. Isso significa uma mudança radical nas relações entre maridos e esposas e, conseqüentemente, uma liberdade maior em decidir por um possível divórcio.
Para a socióloga, a literatura é o meio mais eficiente em compreender as mudanças ocorridas na família brasileira. Autores como Martins Pena, cuja obra se concentra no ambiente familiar do século XIX, mostram como estas transformações se deram no Brasil. <<A formação do Estado Moderno traz valores e sentimentos novos às famílias brasileiras. Antes, todos se conheciam, como em uma província, a sociabilidade era mais ampla. Aos poucos, essa convivência social se torna mais restrita e as pessoas mais individualistas>>, afirma Maria Angela.
Para Maria Antonia Cardoso Nascimento, doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e professora do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Pará (UFPA), as relações familiares do mundo contemporâneo estão condicionadas a valores mercadológicos. E o mercado está procurando exatamente atingir os anseios individuais e não mais os anseios coletivos. <<O que percebemos é uma valorização da singularidade. No entanto, a singularidade pela singularidade nega o coletivo, esvazia o grupo>>.
Maria Antonia também destaca que sentimentos como afeto e autoridade, que antes demarcavam a dinâmica familiar, estão se diluindo gradativamente. Pai e mãe precisam trabalhar fora e já não representam mais as mesmas figuras afetivas para seus filhos. Essa ausência implica no enfraquecimento desses laços de afeto e autoridade e coloca pais e filhos diante de um conflito moral.
Segundo as componentes da mesa, os processos de transformação da realidade familiar ainda estão em curso na sociedade brasileira. O estímulo à independência financeira dos filhos, por exemplo, ainda não é tão expressivo no Brasil, em razão da realidade econômica e social do país. Em sociedades onde o projeto moderno se encontra em estado avançado, como em países da Europa e na América do Norte, os jovens são incentivados a deixar a casa dos pais e a adquirir estabilidade financeira antes dos vinte anos de idade. <<Obviamente, nos países da Europa existe uma estrutura econômica que permite essa situação>>, analisa Maria Ângela. <<Em países subdesenvolvidos como o Brasil, os jovens tendem a depender financeiramente por muito mais tempo dos pais, demorando a deixar a casa da família>>, completa.

Texto: Rodrigo Cruz e Leylla Melo (Assessoria de Comunicação Institucional UFPA)
Imagem: A Família, Tarsila do Amaral

Publicado em: 25.07.2007 11:13