Professor analisa como comunidades amazônicas interagem com a telecomunicação
A última reportagem do UFPA em Série-Telecomunicações fala da pesquisa “Palafitas Digitais: comunicação convergência cultural e relações de poder em Afuá”, dissertação, escrita em 2013, pelo pesquisador Diogo Miranda. Ele visitou a cidade de Afuá, no Marajó, conviveu com os afuaenses e analisou como eles interagem com a tecnologia e entre si. Diogo é jornalista formado pela UFPA e, atualmente, é aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL/UFPA) e professor de comunicação da Estácio FAP.
O artigo estuda questões de comunicação na Amazônia e analisa as relações de poder estabelecidas no local. “A pesquisa tem a finalidade de compreender como as comunidades amazônicas interagem com a telecomunicação. Porque as pessoas querem observar e analisar a Amazônia como o resto do País, mas é diferente. Por exemplo, a educação no interior paulista é diferente da do interior do Pará. Aqui alguns alunos têm que levar em conta o processo das marés, se está em alta ou em baixa, mas lá isso não é levado em consideração. Na Amazônia, nós temos processos políticos, econômicos, sociais e midiáticos diferentes”, conta Diogo.
A Veneza Marajoara, Afuá, ou até Cidade das Bicicletas - como também é conhecida -, somente recebeu acesso à telefonia móvel em 2008. Por isso, durante a pesquisa, Diogo - que descobriu Afuá por meio da internet - foi surpreendido com os resultados: ”Vi em notícias que a cidade havia acabado de entrar em contato com a internet. Então achei que ia ser igual a Belém, que eu ia poder ver o processo de adaptação da internet desde o início, mas foi completamente diferente. Eu fui com esse olhar, mas vi um outro processo muito maior.”
Processo cultural - O pesquisador visitou a cidade com a intenção de estudar a utilização de aparelhos, mas percebeu um processo cultural a ser estudado mais relevante. “A gente acha que basta a internet chegar que está tudo resolvido. Não é bem assim. É preciso uma apropriação cultural para que as coisas funcionem, façam sentido e tenham importância para a vida da comunidade. Em 2002, já existia internet lá, mas não fazia parte do dia-a-dia das pessoas. Foi só quando criaram uma rádio local que a internet começou a interagir com a comunidade e a ter sentido para a vida delas. As pessoas começaram a desejar ter acesso à internet e aos smartphones. Nesse momento começou a apropriação cultural”, explica Diogo.
De acordo com o professor, apesar da distância geográfica, o modo de uso da internet é quase o mesmo da capital. “Eu acho que a maneira como a rede é usada para eles é similar à nossa. A internet hoje, de maneira geral, é uma rede de interação e ela constitui esse ambiente midiático – que articula a web, a televisão, o rádio, os jornais impressos e revistas, etc – nos permite construir novas dinâmicas sociais. O que muda é a natureza dos processos e como eles se estabeleceram, como são as dinâmicas locais que dão relevância à essa mídia. Afinal, Afuá é outra cidade, tem outras tradições, outra origem histórica”.
Lucy Britto - moradora de Afuá que guiou Diogo ao redor do município -, confirma essa importância: “A internet tem uma importância sem igual, pois por meio dela posso conhecer o mundo, pois como moro em município longínquo, ela é minha parceira para interagir com o planeta! Então, sem dúvida, ela é de suma importância para meu lazer, trabalho e amizades”. Ela ainda conta que a pesquisa teve grande influência na cidade, já que logo depois foram abertas mais lan houses na região. “A cidade ganhou mais concorrência, tendo assim um nível de tecnologia mais avançada”, comemora.
O trabalho, assim como outros apresentados neste “UFPA em Série”, além de enaltecer várias cidades do Estado, tem uma responsabilidade social. Por isso, Diogo reitera: “A gente tem uma responsabilidade muito grande. A gente é muito diferente do resto do país. Cada cidade é única, tem experiências sociais e midiáticas diferentes. Ainda que se aproximem, Belém não é igual à Castanhal, que não é igual à Manaus, que não é igual à Afuá. Por isso, a UFPA, assim como outras universidades federais, tem essa necessidade e responsabilidade de estudar a comunicação desses lugares”.
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Texto: Alice Palmeira - Assessoria de Comunicação da UFPA
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