Catadores relatam experiências em curso de extensão sobre resíduos sólidos
O módulo “Os catadores da Região Metropolitana de Belém” do curso de extensão “Meio Ambiente e Resíduos Sólidos na Região Metropolitana de Belém – Uma abordagem Interdisciplinar”, organizado pelo Programa Interdisciplinar Trópico em Movimento, se encerrou nesta sexta-feira, 9de junho.
O fim do módulo contou com o relato de experiência da catadora Maria Trindade, presidente da Associação Cidadania para Todos (CIDADANIA), da Rede Recicla Pará, representante do Estado do Pará no Movimento Nacional dos Catadores (MNCR); e Paulo André Negrão, presidente da Cooperativa de Catadores da Pedreira (COOCAPE). A mesa foi moderada pelo professor Thomas Mitschein.
Contextualização - A falta de planejamento e organização dos centros urbanos predominante em quase todos os contextos sociais e a maneira de viver que o capitalismo impõe favorecem o consumo e maior geração de resíduos sólidos na contemporaneidade. Os indivíduos que estão à margem do acesso à educação, acabam ficando sem qualificação profissional e têm como única opção o subemprego.
As pessoas que trabalham recolhendo resíduos sólidos são reconhecidas como trabalhadores pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) como “catadores de material reciclável”, que compreende: catador de ferro velho, catador de papel e papelão, catador de sucata, catador de vasilhame, enfardador de sucata (cooperativa), separador de sucata (cooperativa) e triador de sucata (cooperativa).
Segundo estudos realizados pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA), são estimados 600 mil catadores no Brasil. Cerca de 10% do total estão organizados em associações e cooperativas. Grupos ligados ao Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e organizados na forma de redes de comercialização têm conseguido um bom nível de organização, hoje são cerca de 30 redes.
O Movimento Nacional dos Catadores estima que, atualmente, aproximadamente 800 mil pessoas vivem da catação e cerca de 70% são mulheres. O MNCR tem como principais objetivos: a coleta de materiais recicláveis feita por catadores; pagamento aos catadores pelos serviços de coleta de materiais; o controle dos catadores sobre a cadeia produtiva de materiais recicláveis; a conquista de moradia, saúde, educação, creches para os catadores e suas famílias; e fim dos lixões e sua transformação em aterros sanitários, com o devido deslocamento dos catadores para galpões que garantam a sobrevivência digna de todos.
Neste sentido, os organizadores do curso de extensão, que fala sobre a questão dos resíduos sólidos na Região Metropolitana de Belém, consideram interessante ouvir as experiências e de que maneira as pessoas que trabalham diretamente nesse contexto compreendem assuntos chaves para a discussão.
Maria Trindade – Começou a catar no lixão do Aurá há 28 anos. Todo o dia acorda às seis horas da manhã, segue para a Associação e define as atividades que serão executadas. Cada associado tem sua função, entre triagem, transporte, coleta porta a porta, eco ponto (onde ficam alguns associados recebendo doação de materiais) e setor administrativo.
Para Trindade existem dois tipos de catadores: o raiz, em que a profissão passou de mãe/pai para os filhos; e o de oportunidade, em que, após ficar sem emprego, decide ser catador. Independente da maneira que o catador se tornou catador o reconhecimento da categoria é algo essencial, “não queremos ser tratados como ratos de esgoto, queremos ser reconhecidos. A ideia do movimento é fortalecer o que somos”, afirmou.
Sobre ser catadora, Maria Trindade acredita que seu trabalho contribui para a construção de uma Amazônia mais sustentável, pois ao separar o material a sociedade pode contribuir para melhorar o meio ambiente e ajudar os catadores, “a partir do momento que eu não poluo, já estou fazendo a minha parte. Uma garrafa pet, ao ser reciclada, pode se transformar em várias coisas, desde que a gente dê a destinação correta."
Para a catadora, o que falta para a categoria é gestão, tendo em vista que são os donos do próprio negócio e deveriam entender as cooperativas como empresas. “aprendi errando. Não podemos depender do poder público, agora a gente está mais maduro. Queremos compartilhar de tudo, chega de chegar projeto e pessoas decidirem o que queremos”. Para alcançar uma gestão eficiente um dos desafios é o nivelamento das cooperativas e associações.
Paulo André Negrão – Atual presidente da Cooperativa de Catadores da Pedreira (COOCAPE), já foi catador no lixão do Aurá e acredita ser função do poder público cumprir o que está na Lei 12.305/2010 e não desqualificar o catador.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos determina uma ordem de prioridade para a gestão e o gerenciamento dos resíduos sólidos: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos e disposição final ambientalmente adequada. Todos estes aspectos condizem com a proposta de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
Para o mediador da mesa, professor Thomas Mitschein, as falas dos catadores revelam uma questão central, a importância dos catadores organizados e a relação deles com as instituições públicas municipais que, muitas vezes, é complicada,
“porque na medida em que os resíduos sólidos estão sendo ‘descobertos’ como negócio o que vale é o valor de troca. As instituições públicas só encaram o aspecto econômico e deixam de lado o ético, e o catador ‘dança’ ”.
Catadores da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (CONCAVES) estão fazendo o curso de extensão e fizeram perguntas para Trindade e Paulo. Jonas de Jesus Costa, ex-presidente da CONCAVES, perguntou como os palestrantes acreditam que os catadores da RMB estarão em cinco anos.
“Temos o desafio de unir forças e, daqui a cinco anos, ter a nossa central única de triagem, esse é o nosso objetivo, parar de brigar e fortalecer nossa base. Quando a categoria entender que não existe catador melhor que o outro vamos conseguir o que queremos”, afirmou Trindade.
Curso de extensão - O objetivo do curso é sensibilizar os gestores municipais, colaboradores e as suas respectivas unidades representativas, bem com o setor privado ligado às questões do reaproveitamento dos resíduos para os desafios que a Lei 12.305/2010 oferece para a Região Metropolitana de Belém (RMB) nos próximos anos. O curso já falou sobre: a Política Nacional de Resíduos Sólidos; o Estado da Arte do Saneamento Básico na RMB e os Efeitos Ecologicamente Danosos da Emissão de Gases do Efeito Estufa.
Na semana que vem, o quinto módulo abordará a Coleta Seletiva na RMB e os dois últimos módulos debaterão a Ética Amazônica, Agroecologia Urbana e a Educação Ambiental na RMB; e Os Resíduos do Ecossistema Urbano: Insumo no processo fundamental da criação de uma moderna civilização da biomassa. Com apenas 60 vagas o curso recebeu mais de 300 inscrições.
Texto e fotos: Lucila Vilar
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