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TCC de aluno do Parfor leva reconhecimento à comunidade quilombola

O Parfor comemora mais um fruto positivo desses oito anos de existência do projeto de formação de professores na UFPA. Por meio das pesquisas desenvolvidas pelo aluno egresso do curso de História do Parfor, Raimundo Gonçalves da Silva, para seu trabalho de conclusão, a comunidade de João Grande de Viseu recebeu a certificação de “Comunidade Quilombola”, reconhecida oficialmente pela Fundação Palmares, entidade vinculada ao Ministério da Cultura (Minc).

Com o tema Entre o tambor e a aparelhagem: mudanças sonoras na Festividade de São Benedito de João Grande – Viseu (década de 1980), orientado pelo professor doutor Cleodir Moraes, o professor da rede municipal contou em sua monografia um pouco da história desse povo, formado por negros descendentes de escravos que fugiram de fazendas do Maranhão. A comunidade fica a 6 km do município de Viseu e nela vivem cerca de 60 famílias, que realizam uma tradicional atividade religiosa entre os dias 20 e 27 de dezembro, em homenagem a São Benedito, santo padroeiro do lugar.

“Quando eu fui para Bragança estudar, já tinha certeza do que eu queria defender no meu trabalho: queria estudar cultura africana! Não tinha recursos, fiz pela vontade, saía da sala de aula e ia embora para a comunidade, ia de bicicleta, a pé, de carona”, relata Raimundo, natural do município de Viseu, o qual viveu a infância e a adolescência na roça e na pesca,  em uma casa humilde, próximo a João Grande, lugar que visitava com frequência e sentia afinidade.

“Me sinto orgulhoso. Primeiro, porque é um trabalho feito com aluno do Parfor, que, em geral, tem uma preocupação e objetivos específicos, por já estarem muito tempo na docência, e eu também prezo alunos do Parfor por conta do sacrifício que todos fazem por estar no período intervalar participando das disciplinas. Por outro lado, por conta da história de vida do Raimundo, que foi um peão, mas é amante da história - tem os filhos com nomes de deuses gregos, Apolo e Artemis. O Parfor veio para encaixar na vontade dele de fazer um curso de graduação”, conta o orientador, professor Cleodir.

Foi com o auxílio do orientador que o tema do trabalho foi traçado e ganhou proporções. “Comecei a desenvolver o meu trabalho com base na prática festiva em João Grande, comunidade que conservou a prática do tambor. O recorte dos anos 80 é quando vão ocorrer as mudanças e os conflitos vão existir, pois nem todo grupo aceitava a presença da aparelhagem, nem todo mundo queria tambor, era um conflito entre o grupo mais novo e o antigo. Hoje, os dois permanecem e a força do tambor se manteve ali”, explica o Raimundo.

“Em todo trabalho de pesquisa, ele foi muito empolgado. Como ele estava envolvido diretamente na comunidade, percebeu a necessidade de pensar para que a tradição do município não fosse perdida pela introdução de outras práticas e cultos, principalmente pelo som das aparelhagens, que, em um primeiro momento, estaria distanciando os jovens”, explica o orientador da monografia.

Reconhecimento - Para o autor do trabalho, a pesquisa é um resgate da história de Viseu, que os próprios viseuenses não conheciam. Com o reconhecimento da comunidade, políticas públicas devem ser direcionadas aos moradores.

“Ele vem mostrar para nosso município uma visão melhor, que estava escondida há alguns anos, que se autodeclarou remanescente de quilombolas na comunidade. Nossa perspectiva é expandir cada vez mais, de trazer recursos para a comunidade”, afirma o presidente da Associação Quilombolas de João Grande, Ruzevel Raiol.

Quando terminou o curso, o professor chegou a ganhar um prêmio de incentivo à pesquisa pela Fundação Cultural do Pará. Mas, inquieto com a falta do título de quilombola, voltou a procurar o professor Cleodir, que lhe orientou a procurar a Fundação Palmares com um dossiê a partir da pesquisa da monografia defendida com conceito excelente.

“Quando ele pesquisou sobre o evento, congrega como um passado e remontava do final do século XIX para perceber que existia uma comunidade ali, há algum tempo, constituída, que precisava, hoje, ter reconhecimento oficial”, afirma Cleodir.

O título foi entregue em uma cerimônia que reuniu autoridades na própria comunidade João Grande, no dia 1° de abril.  “Todo professor sente orgulho de ver os alunos tendo progresso na profissão. Para mim, foi extremamente prazeroso estar com ele nesta caminhada”, disse Cleodir. A pesquisa será publicada em um livro pela coordenação geral do Parfor UFPA, em virtude da sua relevância.

Texto e fotos: Thais Rezende - Ascom Parfor UFPA

Publicado em: 14.06.2017 18:00