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Colóquio discute a vida e o pensamento de Gramsci

Aconteceu nesta segunda-feira (10) a cerimônia de abertura do Colóquio Internacional Gramsci: 70 anos de pensamento vivo na Amazônia, que pretende fomentar uma reflexão compartilhada sobre o pensamento de Antonio Gramsci, pensador italiano, militante político, ético, literário e estético. Promovido pelo curso de mestrado em Ciência Política e a Casa de Estudos Italianos, ambos vinculados à Universidade Federal do Pará, a solenidade iniciou com uma homenagem ao tenor italiano Luciano Pavarotti, falecido na última quinta-feira (06).

Segundo Heloísa Bellini, coordenadora da Casa de Estudos Italianos da UFPA, o ano de 2007 foi decretado pelo governo italiano o "Ano Gramsci", iniciando várias manifestações mundiais em homenagem à figura e ao pensamento de Antonio Gramsci. A idéia é render memória aos setenta anos de falecimento do pensador, a fim de rememorar a sua importante contribuição teórica e de militância política, para a compreensão dos fenômenos políticos ocorridos no século passado e no recente século XXI. "Aqui na UFPA, como Casa de Estudos Italianos, não poderíamos deixar passar isto em branco. Nós estamos plugados a esta iniciativa do governo italiano. Este evento é a ressonância", completa.

O evento, que vai até o dia 12 e representa a primeira atividade do mestrado em Ciência Política aberta ao público, teve uma procura muito acima da esperada pelos organizadores. Segundo a coordenação, eram esperadas cerca de cem pessoas, contudo, até a manhã da segunda-feira, já havia 530 inscrições realizadas. Isto fez com que o local, que inicialmente seria no Centro de Capacitação, fosse transferido para o Centro Recreativo da UFPA, espaço conhecido como Vadião.

Seguindo a programação de abertura do colóquio, o pesquisador Guido Liguori, professor de História do Pensamento Político Contemporâneo na Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade da Calábria (Itália) e vice-presidente da International Gramsci Society, falou ao público uma breve introdução à vida e ao pensamento gramisciano. Liguori estuda o autor há aproximadamente 25 anos, desde que ainda era um estudante universitário. <<Gramsci resumia todos os ideais da juventude da minha época: falava de política e cultura, sem distanciá-las>>, conta.

<<Hoje, ele é o autor marxista que se demonstrou mais duradouro no tempo>>, declara o pesquisador, que também fez o lançamento do seu livro <<Roteiros para Gramsci>> em Belém, traduzido por Carlos Nelson Coutinho e publicado pela Editora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Liguori afirma ainda que Gramsci é atualmente o ensaísta mais difundido no mundo: nos dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), foram registrados 17 mil obras sobre o autor, nos mais diversos idiomas, do coreano ao macedônico.

Gramsci - A vida e a obra de Gramsci demonstram como podemos nos lançar com autonomia intelectual sobre uma concepção de mundo. Durante a sua vida, o pensador político deu testemunhos de ousadia e criatividade teórica e prática ao reconstruir e reinventar os cânones marxistas de ordenação do mundo, sob a ótica do marxismo e dos marxismos, sobretudo através de uma crítica ao capitalismo e ao liberalismo.

Gramsci deixou um legado teórico expressivo, presente mesmo após o seu precoce falecimento, aos 46 anos. Preso em 1926 pelo Regime Fascista e assim permaneceu até sua morte. Foi de dentro da cadeia que Gramsci escreveu suas principais obras: Cartas de Cárcere e Cadernos de Cárcere (dividido em seis volumes). Segundo Liguori, a interpretação destas obras de Gramsci é um processo complexo, pois são textos oriundos de anotações fragmentárias e só foram difundidos postumamente, quase dez anos após Gramsci morrer, em um contexto totalmente diferente.

Mesmo assim, as suas concepções originais sobre os conceitos de bloco histórico, hegemonia, consenso, senso comum, intelectual orgânico, cultura e educação popular, transformismo político, filosofia da práxis, guerra de posição e de movimento, partido político como moderno príncipe, entre outros, servem de base para a reflexão e a ação em uma época, cuja ordenação do mundo se alicerça sob a égide dos postulados e das práticas capitalistas.
Publicado em: 11.09.2007 08:58