Quaternário exige alianças pelo saber e pelo futuro
Conhecer a fundo as características e a história das grandes transformações sofridas pela Terra no seu mais recente período de existência - o Quaternário, que iniciou há 1,8 milhões de anos e se prolonga até os dias de hoje – só será possível através de redes de conhecimento que valorizem e explorem cada vez mais o trânsito de informações entre áreas de conhecimento diversas.
No Brasil, porém, o desafio é um pouco maior: passa também pelo convencimento do poder público sobre a importância de mais verbas para ciência e de um aproveitamento maior dos seus resultados em políticas para os cidadãos, bem como exige uma aproximação cada vez maior entre instituições de pesquisa e empresas privadas compromissadas com o desenvolvimento sustentado.
É isso que apontou o balanço geral do XI Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário (XI Abequa) e da II Reunião do Quaternário da América do Sul, que aconteceram de 04 a 11 de novembro, em Belém (PA). Reunindo cerca de 500 participantes do Brasil e de outros países, os encontros foram promovidos pela Associação Brasileira para estudos do Quaternário (Abequa), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Museu Paraense Emílio Goeldi, com apoio da Petrobras, Capes, BASA, Fadesp e Fadespa. O tema principal das programações foi <<O estudo do Quaternário e responsabilidade socioambiental>>.
<<Foram mais de 368 trabalhos apresentados. É um número expressivo e o congresso este ano resultou ainda num número mais significativo da participação de pesquisas do Norte>>, avalia Tereza Cristina Medeiros de Araújo, presidente da Abequa, sobre a primeira vinda do congresso à região em quase um quarto de século de atividades da entidade.
Parcerias - <<Esperamos que isso signifique um marco para os estudos do Quaternário na região e incentive estudantes a enveredarem por essa área>>, reforça o geólogo Pedro Walfir, vice-presidente da entidade e coordenador do congresso em Belém.
Para Walfir, a temática do encontro deste ano reflete um momento novo para as pesquisas na área. <<Um dos marcos atuais dos estudos do Quaternário são uma evolução de grandes projetos interdisciplinares financiados por empresas privadas como as da indústria do petróleo. Entre eles, podemos citar o Petromar e mais recentemente o Piatam Mar>>, justifica.
<<O homem é o novo grande agente de mudanças no planeta e apenas pesquisas unindo várias áreas do conhecimento poderão nos ajudar a compreender melhor esses processos>>, concorda Ima Célia Vieira, diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi, a mais antiga instituição de conhecimento da Amazônia.
Ima participou no último dia 05 da mesa redonda <<Parceria Empresa - Universidade- Instituto de Pesquisa: o primeiro passo para a responsabilidade socioambiental>>, realizada no Belém Hilton.<<É muito feliz a idéia de discutir a união entre empresas e a pesquisa. A harmonia entre sociedade e economia deve ser fortemente incentivada e as empresas têm um grande papel. Além disso, devemos lembrar que não cabe aos cientistas tomar decisões sobre políticas públicas. Nosso papel é assessorar esse processo>>.
Para Maria Thereza Prost, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e presidente do comitê científico do XI Abequa, conhecer melhor a história dos ambientes e da vida humana na Amazônia é imprescindível à sustentabilidade da região. Porém, as condições para o progresso dos estudos locais sobre o Quaternário exigem a ampliação e qualificação do quadro técnico da Amazônia nos próximos anos. <<Para definir políticas científicas para a região, as instituições de ensino e os centros de pesquisa precisam receber um orçamento condigno e regular em ciência e tecnologia. Nos dias atuais, ele é um dos mais baixos do país>>, ressaltou.
Prost esteve entre os cinco pesquisadores homenageados pelo congresso deste ano por suas contribuições para o estudo do Quaternário na Amazônia – ao lado dos professores Maâmar El-Robrini (UFPA), do ex-secretário adjunto de meio ambiente, ciência e tecnologia do Pará Luiz Ercílio do Carmo Farias Jr. (UFPA), de Kenitiro Suguio (Universidade de Guarulhos) e de Elena Franzinelli (Universidade Federal do Amazonas).
Esse panorama da necessidade de integração entre disciplinas para o entendimento mais completo e cada vez mais preciso sobre os fenômenos de frentes de estudos como a do Quaternário no Brasil fica claro se observarmos o programa de apresentações orais e painéis de um evento como o realizado esta semana em Belém.
No XI Congresso da Abequa, vários ramos da ciência, da geologia à palinologia, da oceanografia à arqueologia, se revezaram em mostras de resultados de 368 trabalhos de pesquisa (168 em apresentações orais e 200 em painéis) aglutinados em sessões diárias por grandes temas e em simpósios paralelos. A maioria dos trabalhos este ano foi dedicada aos estudos do Quaternário Costeiro (98), seguidos por pesquisas do Quaternário Continental (42) e Marinho (23). Os outros referem-se à micropaleontologia (35), sensoriamento remoto (31), arqueologia e Terra Preta (28), gerenciamento costeiro (37), pesquisa neotectônica (12) e estudos sobre mudanças globais (6).
O II Simpósio sobre Barreiras teve 23 trabalhos (15 orais e oito em painéis), o simpósio sobre o Quaternário da ilha de Marajó somou 17 (dez orais e sete painéis) e o II Simpósio sobre Baías reuniu dez trabalhos (três orais e sete painéis). O congresso teve ainda participações de renomados pesquisadores estrangeiros e brasileiros como Karl Stattegger, Charles Nittrouer, Brent McKee, Russel Mapes, Paul Baker, José Antonio Jiménez, Rodolfo Ângulo (UFPR), José Landin Dominguez (UFBA) e Dilce Rossetti (INPE).
Realizado no Belém Hilton, o evento encerrou no último final de semana com duas grandes excursões com os participantes. Eles conheceram o litoral do nordeste do Pará e também visitaram localidades para observação de formações geológicas do Grupo Barreiras na costa paraense.
Texto: Lázaro Magalhães
Comunicação Piatam Mar e Comunicação Piatam Oceano
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