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Doenças orgânicas podem ser agravadas por patologias do psíquico

O tratamento e o diagnóstico de pacientes que sofrem de doenças orgânicas e possuem sintomas como emagrecimento, insônia e anorexia, comumente associadas à depressão e melancolia - tem sido o principal desafio de Psicanalistas e Psicólogos sociais durante sua vivência clínica. Estes profissionais têm se dedicado ao desenvolvimento de estudos aprofundados sobre o porquê dessas manifestações em pacientes com patologias definidas como de origem física e orgânica.

Estudos comprovam que pacientes com doenças orgânicas, como a AIDS, reagem de forma diferenciada quando recebem acompanhamento psicológico. Pois estes, em sua maioria, ao serem comunicados do diagnóstico da doença, mergulham numa sintomatologia melancólica profunda, perdendo sua razão de existir. O que dificulta a eficiência do tratamento para a patologia orgânica.

A Universidade Federal do Pará desenvolve há seis anos no Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) o Projeto de pesquisa e extensão: Tratamento Psicológico em Hospital Geral: contribuições da clínica da melancolia e dos estados depressivos”, coordenado pela psicóloga Ana Cleide Guedes Moreira, que desde 2001, realiza um trabalho satisfatório no tratamento de portadores de HIV/AIDS. Professores, psicólogos e alunos do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) também estão envolvidos no projeto.

               

Mas afinal, o que é melancolia e depressão?

Melancolia é definida pela psicanálise como “Afecção mental caracterizada por depressão em grau variável, sensação de incapacidade, perda de interesse pela vida, podendo evoluir para ansiedade, insônia, tendência ao suicídio e, eventualmente, delírios de auto-acusação”.

Segundo a psicóloga Alessandra Aizenstein Furman Calbucci, depressão é definida como “transtorno que pode ser caracterizado por baixa energia, sentimento de tristeza prolongado, irritabilidade, falta de interesse nas atividades diárias, perda de prazer, alteração no sono, dificuldade de concentração, pensamentos de morte, sentimentos de inutilidade e culpa”.

O estudo sobre a melancolia e a depressão vem sendo desenvolvido há tempos por psicanalistas e psicólogos interessados em compreender as manifestações que acontecem no plano do inconsciente humano. Essas são as denominadas doenças psíquicas, relacionadas à dor existencial.

A psicanálise, como ciência do inconsciente, é responsável pelos estudos sobre os enigmas e formas de manifestações dessas patologias. Esta ciência foi fundada por Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, cujos estudos foram os pioneiros acerca do inconsciente humano e suas motivações. O método psicanalítico desenvolvido por Freud consistia em estabelecer relações entre tudo que o paciente lhe mostrava, desde conversas, comentários feitos por ele, até os mais diversos sinais dados do inconsciente. É baseada nessa técnica de observação que psicólogos e psicanalistas desenvolvem seus estudos e suas metodologias de análise.

 

Relação entre Melancolia, Depressão e doenças Orgânicas.

 

O Psiquiatra Julio Sergio Verztman, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que nos últimos anos, ampliou seu foco de investigação para as doenças auto-imunes - em especial o lupus - considera a melancolia um fator agravante no processo de desenvolvimento da doença, uma vez que esta inibe a vontade de viver do paciente.

O caso do paciente com HIV/AIDS, não é diferente. Em sua maioria, ao constatarem que são portadores do vírus, a primeira reação é o constante martírio de culpa que recai sobre o paciente. Pois, este dificilmente aceita a realidade que se impõe e opta por ignorar a patologia. Em contrapartida, com a evolução da doença, os sintomas ficam evidentes e o preconceito da sociedade e do próprio paciente em aceitar que é um soropositivo, só agrava o quadro clínico. Daí a necessidade de acompanhamento psicológico no auxilio do tratamento da patologia.

A associação entre melancolia e AIDS tem sido freqüente nos estudos sobre os co-fatores que interferem no desenvolvimento da patologia em portadores do HIV/AIDS. Como foi dito anteriormente, a melancolia é uma patologia psíquica que requer um tratamento continuado e cujos sintomas são semelhantes aos observados em pacientes com a doença, mesmo aqueles que se encontram no estágio inicial. 

 

“Tratamento Psicológico em Hospital Geral: contribuições da clínica da melancolia e dos estados depressivos”.

Este é um projeto de pós-graduação em pesquisa e extensão, que faz parte das atividades de mestrado em Psicologia Social da Universidade Federal do Pará (UFPA). Está em vigor desde 2001, no Hospital Universitário Barros Barreto e envolve alunos de graduação, pós-graduação, profissionais e professores da própria instituição de ensino.

O objetivo deste projeto consiste em investigar as relações entre a presença de sintomatologia melancólica ou depressiva em paciente portador de HIV/AIDS. No Hospital Universitário João de Barros Barreto, são realizados estudos de casos que permitam um aprofundamento da análise das relações entre depressão e AIDS. Os estudos são desenvolvidos com princípio no conceito de sujeito como alguém que possuía um objeto de devoção que lhe foi retirado.

“A vantagem da UFPA, ao desenvolver um projeto de extensão como este, reside no seu caráter integrado, pois une ensino de graduação, de pesquisa (prioridade) e estágio supervisionado em psicologia social das organizações”, afirma a coordenadora do projeto, Ana Cleide Guedes Moreira.

A realização de seminários quinzenais e mensais possibilitou uma avaliação mais precisa de novos dados e informações que vão surgindo no decorrer do tratamento. A constatação de crises de neurose, de angústias e dores de várias ordens como reflexos do mal estar psíquico provocado pela dor orgânica é um exemplo disso. Além da redução da auto-estima, fator observado nas análises sobre os portadores do HIV/AIDS e é importante diferencial no estabelecimento de um diagnóstico sobre a doença.

Os primeiros psicólogos que atuaram no Hospital Barros Barreto foram os professores e alunos envolvidos no projeto, que é apresentado e renovado todos os anos pelo conselho do instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA.

 

Hellen Pacheco ( Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA)

Publicado em: 17.01.2008 14:48