Pesquisadora da UFPA desenvolve pesquisa sobre os botos, desmistificando mitos e trabalhando na conservação deste cetáceo
As lendas amazônicas sobre o boto despertam o interesse de diversas vertentes do conhecimento. Além da área literária, o imaginário representa também um aliado importante de outros campos científicos. Um exemplo disso, é a pesquisa da Bióloga Angélica Rodrigues que estudou o boto na consciência de meninos ribeirinhos. O objetivo de seu trabalho era encontrar mecanismos para unir o saber empírico da região ao científico na prática da conservação ecológica dos animais.
Angélica é membro do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos da Amazônia (Gemam), uma vertente do Projeto Piatam Oceano, coordenado pela UFPA e financiado pela Petrobras. A bióloga conta que o estudo foi desenvolvido durante sua dissertação de Mestrado, defendido em março de 2008. “Em 2005, comecei a fazer um projeto piloto, mas desenvolvi a pesquisa efetivamente quando ingressei no mestrado em 2006 e trabalhei nele durante 2 anos”, comentou.
A pesquisadora fez mestrado na UFPA na área de Psicologia para estabelecer uma interface entre o biológico e o psicológico no estudo desses animais (os botos). Ela explica que sua produção se enquadra no âmbito da etnobiologia que estuda os conceitos das populações tradicionais a respeito da natureza.
A pesquisa de Angélica consistiu na investigação do conhecimento de estudantes ribeirinhos a respeito dos botos, no município de Soure e no Rio Sapucajuba, em Abaetetuba. Em parceria com as escolas, ela aplicou redação e questionários a 80 estudantes, todos filhos de pescadores, entre a quinta e sexta séries. Os resultados atestaram que 57% das crianças apresentam medo em relação ao boto, mas apesar dessa situação, 67% dos entrevistados acreditam na importância da preservação desses mamíferos.
Nas verbalizações dos ribeirinhos, o sentimento negativo em relação ao animal é atribuído, muitas vezes, às lendas amazônicas. “A partir do momento em que uma lenda pode ameaçar uma espécie, ela deve ser estudada e retrabalhada no imaginário popular”, diz Angélica. Segundo a pesquisadora, seu principal objetivo é desenvolver um plano de conservação ambiental que se adéqüe à realidade amazônica: “a intenção é construir um plano de conservação e não importar um modelo. Fazer isso seria passar por cima de toda uma cultura”.
Angélica conta que durante as atividades de monitoramento de mamíferos desenvolvidas pelo Gemam já foram encontrados cetáceos com marcas de exploração comercial. “Já achamos animais feridos, sem os dentes, carcaças de peixes e outros materiais osteológicos que são depositados no Museu Emílio Goeldi. No caso dos botos, além de servirem de isca para a pesca de tubarões, seus órgãos são vendidos como amuletos. Nosso trabalho está investigando se essas são situações isoladas ou se há uma atividade direcionada à captura deles”, diz.
Com o aumento do monitoramento nos rios amazônicos já foram notificados encalhes de baleias e, nos rios do Pará, houve três ocorrências de peixes-boi. A bióloga explica que a presença desses animais constitui indicadores ambientais e ressalta que é importante suscitar a curiosidade de turistas, pesquisadores e população para esse fato.
Angélica diz que com o término de sua pesquisa inicia-se um segundo momento: “a segunda etapa é refinar esse conhecimento. Produziremos um curta de animação falando sobre ecologia para ilustrar o tema. Como as escolas são nossas principais parceiras nas localidades pesquisadas, também distribuiremos guias de campo e cartilhas aos alunos”, comenta.
Além da produção do curta ecológico, a pesquisadora recebeu recentemente a notícia de que a Rede BBC pretende desenvolver um documentário a respeito do seu estudo sobre os botos. “É gratificante saber que esse trabalho não ficará no anonimato, é preciso mostrar a extensão da universidade e chamar a atenção da sociedade para essas causas”, fala.
Texto: Tamiles Costa – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Foto: divulgação
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