Palestra discute modelos de Conservação para região Amazônica

O Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos – NAEA – realizou na última quinta-feira, 10, a palestra “De
Biodiversidade a Mudanças Climáticas: uma troca de paradigmas na conservação
amazônica”. O evento, que faz parte do projeto “Quintas de Ciência” do núcleo,
foi ministrado pelo geógrafo Prof. Dr. David Gibbs McGrath. O encontro reuniu a
comunidade acadêmica a fim de discutir sobre os atuais modelos de conservação
amazônica, suas contribuições e fragilidades para um uso efetivo.
De acordo com McGrath, há dois
paradigmas presentes nas discussões sobre a conservação da Amazônia: o da
Biodiversidade e sobre Mudanças
Climáticas ou Biosfera. Ambos são temas constantes da mídia e da comunidade
científica quando se fala em conservação da região. Recentemente houve uma
mudança abrupta na importância relativa dos dois temas nos debates ambientalistas.
<<Nos últimos anos, houve uma preocupação cada vez maior quanto às
mudanças climáticas e, de repente, ninguém mais fala em Biodiversidade, todos
falam de mudanças climáticas. O que se vê, portanto, é uma mudança
paradigmática>>.
A espécie humana e o planeta terra
estão enfrentando uma grave crise ambiental, a mais crítica da história. Uma
série de fatores está contribuindo para essa crise. Diversos fatores que
agravaram as mudanças na região são de origem antrópica, ou seja, por meio da ação
humana. Dentre os quais, crescimento populacional, aumento do consumo,
desenvolvimento e expansão da agroindústria e urbanização, entre outros, que acarretaram,
ao longo dos anos, transformações nada positivas a nível global. A fim de
contornar a ameaça de extinção da região, exigiu-se da comunidade científica
propostas de conservação à rica biodiversidade da região.
A primeira proposta a ganhar espaço
nos meios de comunicação foi o paradigma da Biodiversidade. Esse modelo
objetivava preservar áreas com rica diversidade biológica para frear o processo
de extinção das espécies nativas da região amazônica. Assim, surgiu a idéia de resguardar
áreas intocadas, de endemismo (com espécies próprias do local) e de alta
diversidade biológica, protegendo-os da ação humana através da criação de
parques e reservas de preservação. <<Proteger a natureza do ser humano através
de reservas é considerada uma estratégia eficaz e eficiente do ponto de vista
de custo-benefício>>, explica o pesquisador.
Inicialmente, a proposta da
biodiversidade protegida teve resultados positivos. Em algumas regiões onde
existiam espaços delimitados, ocorreu um aumento significativo dos limites
inicias dessas áreas. Entretanto, por pouco tempo. À medida que os municípios
vizinhos se erguiam, político e territorialmente, as reservas diminuíam. A
solução que o Governo teve, segundo David McGrath, foi concentrar essas
reservas em áreas isentas de contingente populacional, facilitando a adequação
desses limites. O objetivo desses mosaicos de reservas seria de evitar os
avanços de práticas como grilagem, extração ilegal de elementos da
biodiversidade amazônica e demais atividade prejudiciais ao ecossistema da
região.
Entretanto, estudos científicos
sobre o paradigma da Biodiversidade demonstram as limitações desse modelo.
<<Havia uma falta de discussão crítica sobre esse conjunto de idéias e
percebi suas limitações como proposta de preservação>>, afirma o
palestrante. Dentre os problemas do paradigma da biodiversidade estão: as
incertezas científicas, já que se têm apenas estimativas sobre a quantidade de
espécies existentes, quantas já foram extintas ou não; a história de ocupação
de algumas regiões indicam taxas de extinção bem menores do que as esperadas; a
sustentabilidade das reservas criadas e a falta de preocupação com as áreas
fora de reservas. <<Acredito que o embasamento científico e empírico para
o aquecimento global é muito mais eficaz do que para a crise da biodiversidade,
onde não sabemos nem quantas espécies têm, muito menos quantas estão em
extinção>>.
Outra proposta, veiculada com mais
freqüência pela mídia, é a do Paradigma de Mudanças Climáticas ou Biosfera. O
objetivo dessa abordagem é não apenas a preservação de espécies, mas também propor
a manutenção da integridade funcional dos ecossistemas da Terra. Para McGrath,
esta abordagem é mais eficaz, pois <<é baseada na perspectiva do modelo
de ecossistemas, que busca entender seu funcionamento tanto no nível local, uma
bacia, região ou, mais amplamente, na biosfera>>.
A abordagem de Biosfera trabalha
com as problemáticas vinculadas ao aquecimento global, a poluição atmosférica e
de águas e oceanos e ao efeito estufa - a partir alta emissão de carbono na
atmosfera pela queima de combustíveis fósseis. Assim como suas conseqüências:
variabilidade na temperatura global; derretimento de calotas polares, com
possível extinção de áreas como a Groelândia; a região amazônica mais fria; mudanças
na composição de espécies devido à baixa temperatura e ameaça a biodiversidade
da região, resultado da instabilidade climática. Dentre os mecanismos criados
para conter essas mudanças de temperatura estão: a criação de um mercado de
créditos de carbono; créditos a mais de carbono nas práticas de reflorestamento
e quando houver redução do desmatamento com intuito de manter a floresta em pé.
As vantagens desse modelo em
relação ao de Biodiversidade, segundo David McGrath, consistem na preocupação
com uma área mais ampla das que se tinha com as reservas. A conservação não se
limitaria as “áreas intocadas”, mas também as áreas de paisagem antrópica. Além
disso, as ações abrangeriam práticas de manejo florestal e de recursos
aquáticos, objetivando a preservação e manejo de áreas extensas de caráter
urbano-industrial.
Durante uma década, através de
uma parceria entre North American Space Agency (NASA) e o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Programa de Experimento de
Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) foi desenvolvido com o
objetivo de formar uma nova geração de cientistas brasileiros capacitados a
entender e agir sobre os impactos das mudanças climáticas, na abordagem do
ecossistema. <<Esse programa criou uma capacidade científica nas
universidades brasileiras para o tipo de pesquisa necessária para estudar as
mudanças climáticas na bacia amazônica, uma nova geração de cientistas fruto de
universidades amazônicas e de instutições de pesquisa amazônicas>>.
O
Geógrafo comenta sobre a falta de reflexão crítica sobre as diferentes abordagens
para a conservação da Amazônia. <<Essa mudança é uma característica da
dinâmica de mídias, gera o processo que todo dia tem uma novidade de mudanças
climáticas>> complementa. Com isso, a população que fica alheia ao
processo de construção dos modelos de conservação. <<Era justamente assim
no início do paradigma de Biodiversidade, mesmas previsões alimentando a
população, criando uma onda que leva a uma mudança de percepção generalizada,
uma troca de paradigmas sobre a conservação amazônica>>, conclui.
Texto: Andréa
Mota
Foto: Mácio Ferreira
Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
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