Somando as diferenças
O que torna cada ser humano único é a sua capacidade de se diferir dos demais a partir de características físicas e psicológicas. O que acontece quando além das diferenças comuns, o indivíduo apresenta necessidades especiais? Historicamente, essas pessoas são desafiadas a se ajustar à vida social de algum modo. No entanto, hoje, é possível perceber que não somente elas precisam se adequar, como também a sociedade. Nesse contexto, a escola, como fator essencial na sociabilidade do homem, tem um papel igualmente desafiador: incluir.
A professora da UFPA Hildete Pereira dos Anjos, coordenadora da pesquisa <<A experiência de inclusão dos alunos com necessidades especiais nas escolas públicas de Marabá>> estudou o tema, a partir da perspectiva dos professores. Ela relata que, apesar da inclusão desses estudantes ser recente nas escolas públicas do município, a presença deles contribuiu favoravelmente para o aprendizado dos profissionais da educação. <<Os professores citam a impotência, o medo de cometer erros graves, o pânico diante desta nova situação, ao mesmo tempo em que expressam o desejo de aprendizagem>>, diz. Ela conta que muitos se queixam que o ambiente acadêmico não os preparou para essa situação.
<<Mal sabem eles que a sala da aula sequer estava preparada também. Tenho questionamentos à noção de preparação como tarefa teórica>>. A professora explica que não há modo melhor de enfrentar e compreender os fatores que promovem mais exclusão, senão a partir da presença concreta das pessoas com necessidades especiais orientando e questionando os profissionais.
Hildete comenta que nas verbalizações dos professores, os sentimentos descritos oscilavam entre a passividade e a insegurança. A postura passiva do profissional baseia-se na crença historicamente constituída de que essa clientela ainda pertence à educação especial. <<Traz um certo conforto pensar que há um profissional que não tem as mesmas dúvidas e medos que nós>>. Já o sentimento de insegurança dá-se em função principalmente dos conhecimentos técnicos específicos como Libras, Braile, uso de máquinas e softwares. <<Os tempos da escola, ainda muito semelhantes aos da fábrica, não têm sido modificados para que o professor tenha condições de investir na própria formação>>, afirma a pesquisadora.
Apesar dos entraves, a coordenadora ressalta que há disposição por parte dos educadores para o enfrentamento das dificuldades. Ela comenta que os questionamentos dos professores muitas vezes são vistos como comportamento preconceituoso, mas ela discorda. <<Interpretamos como uma postura saudável que coloca em cheque a forma como as escolas têm funcionado. Não podemos fazer de conta que está havendo inclusão apenas pela inserção de alunos com necessidades especiais nas salas de aula>>.
Outro fator que causa polêmica dentro das classes é a divisão das competências entre professores e pessoal especializado. Hildete enfatiza que o trabalho do atendimento especializado não deve se restringir à criança com necessidades especiais, mas se estender também ao professor e aos demais alunos na medida em que todos podem aprender a partir de um trabalho integrado.
Em 2008, a professora comenta que sua equipe, formada por ela e mais duas bolsistas do curso de pedagogia, pretende ampliar o trabalho para pais, gestores e alunos assim como a articulação da pesquisa com outros projetos. Ela conta que é uma sobrecarga para um grupo tão pequeno considerando que ainda há outras atividades paralelas a essa. Apesar do excesso de trabalho, a pesquisadora explica que o resultado compensa, pois reconhecer as limitações é o pontapé inicial para compreender melhor a organização do mundo em volta.
A professora admite que ainda existe um rótulo na educação especial, o que não significa que isso não possa ser diluído com o tempo por meio de ações conjuntas entre profissionais da escola. Quanto aos estudantes com necessidades especiais, Hildete afirma que <<as dificuldades na escola não os amedrontam; afinal, eles convivem com elas desde sempre>>.
Texto: Tamiles Costa – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
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