Pesquisa e Extensão sobre Juventude Negociada

Meninas vindas do interior, mães jovens, mulheres em situação de violência doméstica. Podem parecer grupos distintos e problemáticas diferentes, mas a professora e doutora da UFPA, Mônica Conrado, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UFPA, em uma pesquisa sobre juventudes, gênero e sexualidade, constatou que essas realidades convergem para um único contexto: ausência de efetividade de direitos.
A pesquisadora entrevistou jovens albergadas nas Casas-Abrigo Emanuelle Rendeiro Diniz e Dulci-Accioli, localizadas em Belém. Nelas, foi possível reconstituir histórias de vida particulares e ao mesmo tempo semelhantes, no que diz respeito às violências sofridas. Jovens entre 12 e 16 anos deram declarações em que contaram suas trajetórias de meninas do interior, que vieram ainda crianças para casas de famílias da capital e se depararam com situações de trabalho escravo e abuso sexual, ou ainda casos de mulheres que sofreram violência do marido.
Sejam meninas de 12 ou 26 anos, seja o histórico de trabalho infantil ou violência doméstica. A professora acredita que <<o que marca é uma história que não é pessoal, mas é uma história oficial de violência e de ausência de direitos humanos das mulheres, de efetividade dos direitos da criança e do adolescente. Então, em uma biografia, você marca a trajetória de várias violações de direitos>>.
E foi lidando com essas histórias que a pesquisadora construiu uma nova categoria de análise: o conceito de <juventude negociada>. O princípio desse contexto teórico é entender que ser (ou não) jovem está vinculado aos papéis exercidos em sociedade. <<Nas entrevistas pude verificar essa negociação da juventude, entre o que podemos definir como uma construção de vida adulta e de adolescência como um constructo também. Nos relatos, eu pude verificar que com 13 ou 18 anos, você se torna mãe, você sai de casa, ou seja, você já se configura e se insere com outra forma de se ver e de ser vista pelo mundo>>. A partir da premissa de que juventude é uma fase de negociação entre a adolescência e fase adulta é possível <desnaturalizar> o conceito de juventude, desmistificando a noção dela como uma época delimitada pela idade ou pelo desenvolvimento biológico.
Mônica Conrado ressaltou que trabalhar com juventude é trabalhar com uma pluralidade de temáticas e situações, como as realidades que ela encontrou ao entrevistar jovens albergadas. <<Por isso, juventudes precisam ser tratadas no plural>>, enfatizou. Ela conta que, nas entrevistas, deparou-se com perspectivas de vida de jovens que, devido às suas trajetórias, têm aspirações diferentes de uma juventude que vive na capital e tem o direito de estudar e se divertir. <<Você vê uma outra dimensão: aquelas que sonham em ter uma casa própria, em ter a sua autonomia, que buscaram isso [na capital] e encontraram um contexto de violência>>.
Além da problemática das juventudes, a professora estudou um complexo de temáticas das ciências sociais: viu casos de exploração do trabalho infantil, abuso sexual de menores e mulheres, muitas já mães, que sofreram violência doméstica. Pôde também trabalhar com questões de sexualidade, gênero e cor, correlacionando as análises para entender o contexto de violação dos direitos dessas mulheres.
Projeto de Extensão
Como continuidade da pesquisa, Mônica Conrado desenvolveu o projeto de extensão <<a Juventude Negociada entre a vida adulta e adolescência: uma abordagem sobre gênero, cor, violência e sexualidade, a partir do olhar sobre adolescentes e mulheres albergadas de Belém do Pará>>. O projeto se baseou nos pressupostos teóricos da pesquisa e consistiu em oficinas temáticas para alunos de escolas públicas de Belém.
Realizadas em 2006 e 2007, as oficinas trabalharam problemáticas como educação pública, relações étnico-raciais, identificação de cor, diversidade, gênero e sexualidade. O público compreendeu alunos das escolas estaduais de ensino médio Ruth Rosita de Nazaré Gonzalez e Governador Alexandre Zacharias de Assumpção, ambas localizadas no bairro do Guamá. O objetivo foi levar ao ambiente escolar o debate sobre violências e violação de direitos, a partir do que foi observado e constatado na pesquisa sobre juventudes. Atualmente, o projeto está em fase de finalização de relatório.
Tanto a pesquisa como a extensão foram experiências vinculadas ao trabalho do Observatório Regional da Lei Maria da Penha, que a professora coordena, e do Grupo de Estudos e Pesquisas Eneida de Morais (GEPEM). Dentro das temáticas sobre gênero e cor, a professora buscou compreender as diversas situações de violências sofridas por meninas e mulheres de casas-abrigo, suscitando, assim, a reflexão sobre a necessidade de efetivar direitos e leis que garantam a dignidade das mulheres. <<Eu vi que para poder entender a situação de violência doméstica e familiar que nós estamos trabalhando aqui no Observatório hoje, eu teria que entender essa juventude que é negociada e sofre violências>>, finaliza.
Texto: Suzana Lopes - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Foto: divulgação
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