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Pesquisa estuda o papel político das primeiras damas no Pará

Como lembrar do ex-governante argentino Juan Domingo Perón e não associá-lo imediatamente à figura quase mítica de sua segunda esposa, Evita Perón? Os dois nomes estão entrelaçados, não somente pelo matrimônio, mas pelas atividades políticas de ambos. A presença marcante de Evita no movimento peronista e no desenvolvimento de uma política populista de assistência aos necessitados, trouxe o apoio da população pobre argentina para Juan Perón, eleito presidente do país em 1946.

 

Pensando em compreender o papel estratégico das primeiras damas, mais precisamente, analisar as práticas desenvolvidas por essas mulheres no executivo estadual paraense no período de 1982 a 2006, a pesquisadora Maria Edith Ferreira de Carvalho produziu para a sua monografia de <<Especialização em Ciência Política: partidos e eleições>> da UFPA a pesquisa <<Primeiras damas: suas práticas sociais e representação política no Pará de 1982 a 2006>>. Segundo Maria Edith, os métodos utilizados para o desenvolvimento do estudo não consistiram em biografia e nem jornais de circulação local para evitar tendências. Sua pesquisa foi baseada em entrevistas e nas publicações do Diário Oficial.

 

O objetivo da produção de Maria Edith era conhecer as primeiras damas do Estado, o que fizeram e de que modo prestaram sua contribuição aos governos de seus maridos, por meio de práticas sociais que mais tarde se tornariam políticas públicas consolidadas. <<O que chamou minha atenção para o assunto foi que na história do Pará percebe-se que essas mulheres tiveram atuação mas não aparecem. De uma forma ou de outra, as primeiras damas têm muita influência e isso fica nítido nas pesquisas>>, conta Edith.

 

O recorte temporal estudado pela pesquisadora engloba desde o período pré-redemocratização política do país, em função da transição ocorrente durante o mandato do ex-governador Jader Barbalho, até uma fase mais atual no governo de Simão Jatene. <<Peguei o primeiro mandato de Jader com a Elcione Barbalho, passei para a Therezinha Gueiros, Elcione novamente (Jader reeleito), Socorro Gabriel e Ana Jatene. Dentro desses contextos, fiz o reconhecimento do perfil das atividades de cada uma>>, explica.

 

Segundo a pesquisa de Edith, as funções designadas às mulheres sempre figuraram em torno da maternidade e da família, relegando-as a uma esfera privada da sociedade, o que consolida um contexto de dominação masculina. Tal fato impossibilitou durante muito tempo formas de participação feminina no âmbito social ou político.

 

De acordo com a monografia, a partir do aparecimento da figura de primeira dama, esse papel atenuado da mulher passa a se desmanchar. Sua atuação não se restringe mais a acompanhar o marido em eventos sociais e oficiais, mas a trabalhar em prol do mandato do esposo, por meio de práticas assistenciais. Em outras palavras, a figura de primeira dama representa <<a apropriação pela esfera pública do modelo privado patriarcal da personalidade feminina, trazendo suas peculiaridades ao mundo público do governante>>, declara Edith com base na afirmação de Iraildes Caldas Torres, autora do livro <<Primeiras-Damas e a Assistência Social: Relações de Gênero e Poder>>.

 

Nesse cenário de participação feminina, a pesquisadora se ateve a investigar o caso em que a mulher vai além do suporte ao marido e se lança politicamente com carreira própria. <<Fiz um estudo da evolução política da Elcione Barbalho, porque dentre todas, ela foi quem se lançou em carreira própria. Pude observar seu empenho em prol do mandato do Jader e seu forte envolvimento social, o que lhe possibilitou ser eleita e reeleita, mantendo-se até hoje>>. Em relação às demais primeiras damas estudadas, a pesquisadora conta que <<o interessante é que além da Elcione, a Thereza Gueiros e a Socorro Gabriel continuaram atuantes mesmo sem um mandato ou uma carreira política formal>>.

 

Quanto ao contexto atual e as comparações entre as atuações da ex-primeira dama da nação, Dona Ruth Cardoso e a atual, Marisa Letícia da Silva, Maria Edith analisa, <<acredito que as diferenças de atuação política se dão em virtude das atividades pré-primeira dama. A dona Ruth era Antropóloga, atuante, participou do movimento estudantil e de uma forma ou de outra viveu o exílio, foi justamente essa vivência anterior à atividade de primeira dama que deu suporte a ela. Já a Dona Marisa, viveu outro momento>>.


 

Texto: Tamiles Costa - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

Foto: Reprodução Evita Peron.

Publicado em: 08.07.2008 12:41