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Projeto aplica a cartografia como forma de identificação social

Imagine um mapa que, ao invés de ter informações técnicas, contasse o cotidiano de uma comunidade. Essa é a proposta do projeto <<Nova Cartografia Social da Amazônia>> (PNCSA), coordenado, em Belém, pela pesquisadora Rosa Acevedo Amorim, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA (NAEA). O projeto está sendo desenvolvido em todo o Brasil e dele também participam professores das universidades federais, estudantes de graduação e Pós-graduação.

 

Grupos sociais como as mulheres quebradeiras de coco, ribeirinhos, homossexuais, quilombolas, indígenas, entre tantos outros, vêem na cartografia uma maneira de expor seus processos de territorialização e sua identidade.

 

<<Esses agentes sociais dificilmente conseguem visualizar na cartografia oficial suas demandas, seu território.  Existe nelas um vazio de informação  no que diz respeito a estes grupos, suas histórias, suas experiências, suas formas de trabalho, os modos de existência coletiva.  A cartografia propõe-se apresentar esses elementos. Neles, emergem a autoconsciência do grupo e a construção e desenvolvimento de identidades próprias>>, explicou a coordenadora Rosa Amorim.

 

Segundo a pesquisadora, a  cartografia representa um ato da pesquisa em execução.  Além disso, são os próprios movimentos organizados que fazem a solicitação deste tipo de trabalho, no qual, eles são os principais produtores.  Eles elaboram os croquis,  narram e explicam os conflitos sociais e ambientais e contam suas histórias. O papel do pesquisador é colaborar para que essa dimensão da escrita e da representação fique materializado no Fascículo.

 

O PNCSA já publicou 76 fascículos, que são a fase do projeto de publicação dos resultados das pesquisas. Em alguns casos, a publicação de um fascículo gera um novo fascículo ou um dossiê. A primeira publicação é de 2005, trazendo as quebradeiras de coco, da série <<Movimentos Sociais, Identidade Coletiva e Conflitos>>.

 

Nesse mesmo ano, foi lançado o livro <<Guerra  Ecológica nos Babaçuais: o processo de devastação dos palmeirais, a elevação dos preços de commodities e o aquecimento do mercado de terras na Amazônia>>, escrito por Alfredo Wagner Berno de Almeida,  Joaquim Shiraishi Neto e Cynthia Carvalho Martins.

 


Novas pesquisas

Os mais recentes fascículos foram lançados nos últimos dias 11 e 14 de julho e compõem as séries <<Crianças e adolescentes de comunidades tradicionais>> e <<Movimentos sociais e conflitos na Amazônia>> e uma das publicações traz o tema <<Crianças e adolescentes ribeirinhos e quilombolas de Abaetetuba>>, desenvolvido por Solange Gayoso (doutoranda do NAEA), Marcos Vinícius de Lima (graduando do curso de geografia da UFPA), Lílian Santana (assistente social, UFPA). Neles, participaram 348 pessoas que vivem nas ilhas e áreas de várzea de Abaetetuba, entre 4 a 23 anos.

 

<<Cada mapa traz um léxico próprio de signos apontados pelas pessoas que participaram da produção, então não é o pesquisador que escolhe os símbolos e legendas. Um mapa nunca é igual ao outro, ainda que você identifique situações semelhantes>>, ressaltou Solange Gayoso.

 

Solange Gayoso explicou que a pesquisa tem um trabalho de campo preliminar, de conhecimento das comunidades que serão pesquisadas, onde há uma discussão intensa sobre a diretriz da nova cartografia social, o que é o projeto e a gente vai construindo junto, nesse momento, com as lideranças como vai ser o processo da pesquisa. Passada essa fase, são realizadas uma série de oficinas onde é feita a construção da cartografia social. E após isso, tem a etapa de sistematização e publicação dos resultados.

 

Ainda para a pesquisadora, a sociedade nunca teve a oportunidade de construir seus mapas, suas cartografias. As bases cartográficas e os mapas geralmente são produzidos por técnicos especializados, sob o interesse de instituições públicas e privadas. A cartografia social, por outro lado, possibilita que as pessoas produzam seus próprios mapas, retratando seu cotidiano, suas referências numa base cartográfica.

 

Futuras publicações

 

No mês de agosto, será lançado o <<Fascículo  Bairro do Cabelo Seco, Marabá>>,  realizado com a colaboração da antropóloga Joseline Barreto Trindade e alunas do curso de Ciências Sociais  da UFPA — campus de Marabá.  Esse fascículo é acompanhado de um vídeo, onde a diversidade das práticas culturais  são apresentadas   como elemento de auto-identidade coletiva.  “Marabá necessita rever os atores sociais, até reinventar sua história”, finalizou Rosa Amorim.

 

Texto: Dandara Almeida – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

Publicado em: 00.00.0000 00:00