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Sorriso Especial: curso de Odontologia da UFPA desenvolve atendimento a pacientes com necessidades especiais

Várias vezes pensei que seria uma bênção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no princípio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe ensinaria as alegrias do som”. Trecho retirado do texto “Três Dias para Ver” da educadora e escritora americana Helen Keller (1880-1968). Cega, surda e muda desde bebê, ela é considerada um dos expoentes mundiais  na luta pela inclusão das pessoas com necessidades especiais. Gente como Helen nos chama a valorizar não somente os sentidos, mas também quem, por alguma razão, foi privado deles.

Nesse contexto de inclusão, existe maior arma que o sorriso? Por meio do simples ato de sorrir o ser humano pode abrir portas, fazer amigos e expressar os sentimentos mais banais até os mais íntimos, independente da raça, do gênero ou necessidade espeical. Se é assim, por qual motivo as pessoas com necessidades especiais estiveram por tanto tempo excluídas do atendimento odontológico? A professora do curso de Odontologia Rosely Cavaleiro, ministrante da disciplina “Pacientes Especiais” para os alunos entre o 7° e o 10° semestre da graduação, conta que este quadro está mundando.

Rosely afirma que o primeiro passo é desmistificar as antigas concepções no trato com a clientela especial e oferecer a eles prioritariamente o que toda pessoa merece, um tratamento acima de tudo humano. “Na hora em que se senta na cadeira odontológica, todo mundo gostaria de ser especial, estabelecer uma relação mais humana e ter seus medos mais compreendidos”, diz a professora.

Ela explica que o ganho para o profisisonal que trabalha com esse tipo de atendimento é maior do que o benefício ao próprio paciente, tanto no que diz respeito a formação prática quanto ao crescimento pessoal. “Algumas vezes o dentinsta passa sua vida inteira nos consultórios sem ver determinados tipos de alterações bucais e quando atende um paciente especial encontra 3 ou 4. Somado ao ganho prático há o crescimento humano, o que conseqüentemente o tornará um profissional diferenciado”, ressalta.

A professora conta que a Odontologia a Pacientes Especiais funciona a partir de um trabalho de clínicas integradas nas quais vários profissionais de especialidades diferentes trabalham juntos. “A integração é importante para a formação generalista do profissional. Nesse sentido, o aluno é convidado a fazer um plano de tratamento para seus pacientes na tentativa de reproduzir a realidade do consultório”, fala.

Rosely enfatiza a importância da motivação dos graduandos para o desenvolvimento da proposta da disciplina, “primeiro ministra-se um conteúdo teórico e depois dá-se início a parte prática. Os primeiros casos dados aos estudantes devem ser possíveis dentro da pouca experiênica deles para que se sintam capazes, daí há a necessidade de triagem dos pacientes”. Os alunos de Odontologia atendem tanto crianças quanto adultos, com uma demanda quase equivalente entre ambos os públicos. Grande parte da clientela infantil é proveniente do Hospital Universitário Bettina Ferro ou da comunidade em torno da UFPA.

Somado ao tratamento odontológico, os profissionais oferecem orientação aos cuidadores dos pacientes com necessidades especiais no momento da consulta.  “Algumas pessoas acham que o número de cáries da criança deve-se ao fato dela ser especial, mas isso na verdade deve-se a própria higiene dental”, diz Rosely. Ela explica que há uma maior dificuldade na higienização bucal de pessoas especiais em função de movimentos involuntários como trincagem de dentes e demais contrações musculares.

Os entraves em se tratar de uma criança ou adulto com necessidade especial levam os profissionais a desenvolverem alternativas tanto comunicacionais quanto instrumentais para que o paciente possa se sentir confortável. “No consultório, além da utilização dos abridores de bocas, as adaptações da cadeira são artesanais por dois motivos, pelo alto custo das adaptações de fábrica e pelo fato destas imobilizarem o paciente, e esse não é nosso objetivo”, fala Rosely. A professora conta que instrumentos como fraldas e cintos de segurança são usados visando a proteção do paciente, nunca sua imobilização.

 

Os Pacientes

 

A clientela especial atendida pelo serviço odontológico é bastante diversificada. Justamente as peculiaridades de cada paciente fazem com que os diferentes medos não sejam ignorados. Utilizando como exemplo as pessoas com paralisia cerebral, Rosely explica que “se costuma pensar, em função do termo indevido, que ali há um cérebro parado, mas não é assim. O indivíduo com este tipo de paralisia sente e entende tudo ao seu redor, não é um vegetal, porém, muitas vezes, se é indiferente a isso”, diz.   

Rosely Cavaleiro enfatiza a questão dos mitos em torno das pessoas com necessidades especiais e admite que ela mesma já teve preconceitos. “Antes de me especializar em saúde mental, os pacientes com transtornos psiquiátricos eram os que eu mais temia por julgar que eles pudessem apresentar agressividade. Hoje mudei essa concepção”.  Ela relata que a maior parte dessa clientela apresenta depressão e menos de 10% é agressiva, “o ato de ferir é mais comum em quem não tem o transtorno. Esses quadros psiquiátricos depressivos podem se desenvolver em qualquer pessoa. Todos estamos sujeitos”.

Segundo a professora, dentre os pacientes que apresentam maior resistência durante o tratamento está o altista, que considera o mais difícil de tratar. “Ele não aceita o toque, enxerga o tratamento dentário como algo invasivo. Cuidar de um altista envolve diretamente permissão. Em alguns casos precisamos colocar na cadeira a pessoa em quem ele mais confia e tratá-la, mesmo assim ele ainda permanece apreensivo”, explica. Em contrapartida, Rosely conta que curiosamente são os altistas que estabelecem os maiores vínculos afetivos no consultório em função de seus círculos de amizades serem extremamente restritos.

Nesse contexto, conquistar a confiança do paciente é fundamental, logo comunicar-se com ele é uma forma de inserção no seu mundo. Rosaly diz que no caso dos surdos há esforço tanto por parte dos profissionais quanto por parte dos pacientes no momento da comunicação. “Fiz curso de libras e procuro ensinar aos alunos. Os pacientes surdos, quando adultos, acabam ensinando este alfabeto aos estudantes. Já as crianças, por não dominarem libras, utilizam a leitura labial para compreender o tratamento”.

Quanto aos deficientes visuais, a professora conta que é assustador para a criança cega o consultório dentário em função dos ruídos e dos cheiros fortes. O profissional precisa narrar o ambiente, muitas vezes até descrevendo cores (eles têm preferências por cores). A odontóloga ressalta que no trato com cegos é imprescindível o tato, fazer com que a criança ou o adulto toque o enconsto da cadeira e saiba o que será feito passo a passo.

Rosely Cavaleiro conta que o interessante é que mesmo os pacientes cegos têm preocupação com a estética, “já houve caso de uma paciente perguntar sobre clareamento dentário porque queria uma melhor aparência para seu sorriso, ou seja, independende de qualquer condição, as pessoas são iguais, a própria constituição prêve isso”, finaliza.

 

Serviço

 

Os interessados no atendimento de Odontologia Especial devem procurar o Serviço Social da UFPA pelo fone 3201-7689 e fornecer seu nome e telefone para a participação na triagem. Os atendimentos são realizados na Faculdade de Odontologia da UFPA.

 

 

Texto: Tamiles Costa

Foto: Clínica Integrada

Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

Publicado em: 00.00.0000 00:00