O desafio da ciência na Amazônia - o avanço e a necessidade de formação de doutores
A Amazônia precisa de mais doutores. É o que constataram pesquisadores da Academia Brasileira de Ciência (ABC). A região possui atualmente 2800 doutores, um número inferior ao mínimo proposto pela ABC (4200) para um efetivo desenvolvimento científico. Esse quadro, entretanto, se for tomado isoladamente, não revela a verdadeira situação da produção científica amazônica. Nos últimos anos, existiu um esforço regional e, inclusive, nacional para o avanço da ciência, e já mostra resultados bastante significativos: expansão da pós-graduação, construção de laboratórios modernos e realização de pesquisas de ponta que são referências nacionais e internacionais.
Há trinta anos, a Universidade Federal do Pará (UFPA), pólo científico regional, só possuía dois programas de Pós-graduação. Hoje, os números chegam a 41 programas, com oferta de 40 cursos de mestrado, 18 de doutorado e 18 residências médicas. Cerca de 2500 alunos estão matriculados nos cursos stricto sensu da instituição, que forma 500 pós-graduados por ano.
Algumas áreas do conhecimento possuem pesquisas e laboratórios que se igualam aos mais modernos do país, com destaque para as geociências, cujos cursos de Pós-graduação têm o maior conceito (seis) da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). As ciências biológicas também são referências de pesquisa, abrangendo não apenas setores tradicionais, como a zoologia, mas inclusive estudos de ponta em genética (humana e animal), biologia celular e neurociências. Ganham destaque ainda, os cursos tecnológicos, que vem recebendo grandes investimentos devido à carência nacional de engenharias, e as ciências agrárias, fundamentais para uma região com grande produção agropecuária.
Nota-se, assim, que, nos últimos anos, houve o crescimento da Ciência e Tecnologia (C&T) na Amazônia. Contudo, ainda há muito para se desenvolver devido à enorme demanda regional. Roberto Dall’Agnol, Doutor em Geologia e Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPA, explica a dimensão do desafio amazônico de consolidar sua produção científica. <<Nós vivemos um paradoxo: de um lado, o esforço enorme de crescer, buscar repostas, produzir ciência; e de outro lado, uma demanda infinita. Sempre se tem muito mais a construir e mudar>>.
De fato, o desafio é muito grande, afinal não estamos falando de qualquer região. Trata-se de desenvolver a metade do território brasileiro, que possui uma riqueza de fauna e flora única no mundo. Trata-se da região que tem a principal província mineral do planeta, abundância de recursos hídricos, com diversos fenômenos atmosféricos a serem estudados. Além disso, há muitas outras questões para se discutir e pesquisar, como a poluição, as mudanças climáticas, a floresta, as conseqüências do desmatamento, os conflitos sociais, os povos indígenas e as alternativas econômicas para a região, apenas para citar exemplos.
Formação de doutores
Qual a alternativa, então, para conseguir expandir a C&T e dar conta de tamanha quantidade e diversidade de problemáticas? Voltando os olhos para a região, a ABC possui um Grupo de Estudo sobre Ciência, Tecnologia e Inovação na Amazônia que refletiu nossa realidade e propôs algumas ações.
Segundo a Associação, é preciso criar novas universidades públicas e institutos de ensino e pesquisa. No Pará, por exemplo, o campus de Santarém da UFPA está em processo de transformação em Universidade Federal do Oeste do Pará, a UFOPA. Novos núcleos de ciência representam para a região a maior capacidade de gerar conhecimentos, em especial em áreas bastante extensas, como a biodiversidade, os recursos hídricos e minerais.
Outra necessidade é ampliar e fortalecer a pós-graduação, o que significa formar, atrair e fixar doutores. Trata-se de criar novos programas de mestrado e doutorado, a fim de formar recursos humanos de alto nível de qualificação. <<Se nós quisermos sair da situação de dependência, nós temos que possuir respostas científicas e tecnológicas. E quem viabiliza isso é a massa crítica, são os doutores>>, afirma Dall’Agnol.
Além de formar cientistas, a Amazônia precisa ser atraente para que doutores de várias partes do país e do exterior tragam suas experiências e enriqueçam as pesquisas. Por fim, deve-se fazer grande esforço para se fixar pesquisadores, disponibilizando vagas de trabalho em universidades e empresas.
Mas não basta criar cursos de pós-graduação. A descentralização e interiorização da ciência se fazem fundamentais, principalmente em se tratando da dimensão continental amazônica. A UFPA está na vanguarda da implementação de campi no interior: possui 9 campi, que se ramificam em diversos núcleos, e oferece vários cursos tanto em nível de mestrado como de doutorado.
Uma última proposta apontada pela ABC é o fortalecimento das redes de informação na região para viabilizar a maior comunicação entre instituições científicas, trocando experiências e divulgando pesquisas. Incluem-se nessa rede, a maior oferta de intercâmbios por meio do PROCAD (Programa Nacional de Cooperação Acadêmica) e dos DINTER e MINTER (Projetos de Doutorado e Mestrado Interinstitucionais), dos quais a UFPA já participa. Também são importantes as parcerias entre universidades e institutos de pesquisa, como o Museu Paraense Emílio Goeldi, a Fundação de Pesquisas dos Estados do Pará e do Amazonas, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), dentre outras.
Tais ações vêm se intensificando, em grande parte com os investimentos da Capes. A Coordenação criou o "Acelera Amazônia", que prevê apoio para o aumento do número de doutores na região até 2010. Os principais métodos são oferecer mais bolsas de estudo, acelerar a instalação de programas de pós-graduação, contratar técnicos para laboratórios e fortalecer o intercâmbio da Amazônia com outras regiões nacionais e internacionais.
O Professor Roberto Dall’Agnol ainda acrescenta um fator primordial ao avanço científico. <<Não basta só produzir C&T, tem que acontecer medidas políticas. Se o crescimento da ciência não for acompanhado da preocupação com a riqueza social, simplesmente reproduziremos modelos de desigualdade e dependência. Então, nós temos que nos voltar para a melhoria de vida da população>>, complementa.
Iniciação científica
Os esforços direcionados ao ensino superior pretendem avançar a C&T em curto e médio prazo. No entanto, para que esse desenvolvimento seja pleno e contínuo, é imprescindível o empenho também sobre a iniciação científica. Antes de o estudioso ser doutor, ele precisa passar pela educação básica e, se desde cedo for estimulado a produzir ciência, maior interesse terá em chegar ao nível de estudo do doutorado.
Hoje, existem bolsas de iniciação científica para alunos do ensino médio (PIBIC Júnior) e da graduação (PIBIC), concedidas pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), UFPA e Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Além das bolsas, Roberto Dall’Agnol acredita que precisam ser formados mais clubes de ciências e museus, inclusive museus móveis e digitais, que disseminem o conhecimento. Tudo a fim de concretizar na Amazônia uma cultura científica e viabilizar a sustentabilidade da região.
Texto: Suzana Lopes – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Foto: Divulgação
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