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Estudo aprofunda análise sobre o modo de vida e as heranças culturais da comunidade de Abacatal

Texto: Alan Araguaia, estagiário da Agência de Notícias UFPA

     

       Situada a cerca de trinta minutos de Belém, próxima ao centro de Ananindeua, a comunidade de Abacatal mantém um modo de vida rural e fortes heranças culturais deixadas pelos seus antepassados, os escravos. O povoado tem origem na ocupação que trouxe escravos de origem africana para trabalhar na agricultura comercial de Belém, entre os séculos XVIII e XIX. Assim como outras populações que vivem nas ilhas ou afastadas do centro da cidade, Abacatal é desconhecida da maior parte da população e tem sua longa história de ocupação tratada com indiferença pelas políticas públicas, verificando-se mesmo atos que buscam cercear a continuidade da agricultura, em nome da urbanização. O lugar não é reconhecido nem delimitado legalmente no espaço rural-urbano de Belém.
       Visando retirar Abacatal da invisibilidade, as sociólogas e pesquisadoras do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea) Rosa Acevedo Marin e Edna Castro publicam a segunda edição da obra “No caminho de pedras de Abacatal – experiência social de grupos negros no Pará”, resultado de pesquisas realizadas entre 1996 e 1998 na comunidade. Essa nova edição traz um aprofundamento maior nas questões de território, herança, memória e práticas agrícolas. A publicação é uma parceria do Programa Raízes com a UFPA. “Nós esperamos que, com esse livro, o debate de políticas públicas para terras de origem ancestral ganhe fôlego”, afirma Edna Castro.
       As terras de Abacatal representam menos de 15% do que a população afirma ter recebido como herança do senhor de escravos Conde Coma Melo, há 208 anos. Empresas, como a Pirelli, se apropriam delas pelo fato das populações não terem o registro das terras e, por isso mesmo, consideradas devolutas. Com base em documentos reconhecidos pela Justiça, os moradores de Abacatal já deveriam estar com os títulos em mãos, mas a União e o Estado ainda não fizeram prevalecer a lei e as regras para o reconhecimento da ocupação e a delimitação do território.
       Rosa Acevedo e Edna Castro utilizaram uma metodologia antropológica e etnográfica, identificando as origens ancestrais dessa população. “É importante frisar que Abacatal não é um bairro de Ananindeua, mas uma comunidade quilombola com sua própria organização social”, ressalta Edna Castro. Por viverem próximos à cidade, os moradores de Abacatal acabam envolvidos com a vida urbana. Comercializam produtos como carvão, verduras e farinha na Feira do Produtor de Ananindeua, alguns jovens freqüentam as escolas da cidade e os moradores recorrem a hospitais ou postos de saúde localizados no meio urbano.
       O caminho de pedras é uma espécie de código histórico das origens de Abacatal. Ele foi construído pelos escravos para que o conde chegasse por terra firme até a fazenda onde se plantava cana-de-açúcar. Atravessando o igarapé Uriboquinha, ele chegava ao engenho. Em 1998, a população de Abacatal reconstruiu o caminho de pedras, lembrando o trabalho de seus ancestrais.

Publicado em: 09.12.2004 15:04