Projeto aprovado pela Embaixada americana resgata línguas indígenas ameaçadas de extinção
O projeto <<Mantendo Vivas as Vozes da Floresta: Documentação das Tradições Orais Amazônicas>>, coordenado pela professora Marília Ferreira, doutora em línguas indígenas pela UFPA, foi aprovado pela Embaixada dos Estados Unidos, que reserva um fundo específico para a preservação cultural. A notícia chegou ao final de julho deste ano e já no dia 6 de agosto a equipe de pesquisa esteve reunida com dois representantes da Embaixada para tratar das questões de efetivação do projeto.
Esta seleção acontece anualmente e é conhecida por sua competitividade acirrada. Representantes da Embaixada americana vieram conhecer os participantes do projeto, o local de trabalho dos pesquisadores e o trabalho desenvolvido.
<<Infelizmente não tínhamos apoio para fazer esse trabalho. A aprovação desse projeto representa um grande estímulo. Além de a gente ter conseguido captar recursos para ter o equipamento necessário para este tipo de trabalho lingüístico-antropológico, a Embaixada dos Estados Unidos nos proporcionou a possibilidade de filmar os informantes. Isso contribui em muito para os trabalhos, podendo até servir de base para outros projetos>>, avaliou a coordenadora Marília Ferreira.
Outra novidade do projeto é a participação de estudantes universitários indígenas na equipe. A professora doutora Gessiane Picanço visitou a aldeia dos Mundurukús, em Jacaré Acanga, para coletar dados. Trabalhando com vários índios numa espécie de experimento de fonética, fez uma seleção de cinco estudantes indígenas que vão trabalhar com ela como bolsistas.
O início das pesquisas
O projeto surgiu a partir do trabalho desenvolvido com as populações que não têm escrita, abrangendo as línguas Apurinã, Araweté, Xipaya, Parkatejê, Kyjakatejê e Mundurukú. Com o objetivo principal de documentar em áudio e vídeo os conhecimentos repassados há milênios através da oralidade, os pesquisadores visitam as aldeias e trazem de lá não apenas novas palavras, mas uma reflexão sobre a situação da cultura indígena sob o olhar dos próprios índios.
<<Em geral, há um sentimento de desvalor pela própria língua. Quando chega um lingüista que se interessa por aquela língua e começa a dizer que ela é importante, eles começam a pensar <minha língua tem valor>. Hoje as populações indígenas têm estado muito preocupadas com o resgate de suas línguas>>, ressaltou a coordenadora. <<Eles têm a cara de índio, cabelo de índio, pele de índio, mas falta a língua, que é uma parte muito forte da identidade deles>>, acrescentou.
A professora doutora Carmen Rodrigues, que também participa do projeto, explica que as línguas Xipaya, Parkatejê e Apurinã vêm sendo estudadas pela professora doutora Leopoldina Araújo, aposentada pela UFPA, há quase trinta anos. Por outro lado, as línguas Mundurukú, Araweté e Kyjkatejê começaram a ser estudadas, relativamente, há pouco tempo.
O estudo e a tradução de uma língua para outra é algo complexo. A fonologia da língua é a primeira a ser estudada. Nessa fase, são identificados os sons, além de verificar o que é fonema e o que não é. Posteriormente, é a vez da morfologia e a sintaxe serem abordadas, abrangendo a estrutura da língua e aspectos gramaticais.
<<No início do trabalho, são coletadas palavras isoladas, depois frases curtas, seguidas das longas, até chegar aos textos, que é a etapa mais complexa>>, ressalta Carmen Rodrigues
Sobre as línguas indígenas
As línguas indígenas no Brasil são somente orais, o que agrava a situação de desaparecimento de muitas delas. O professor Aryon Rodrigues, da Universidade de Brasília, fez uma estimativa há quase uma década de que nos tempos da Colonização havia duas mil línguas indígenas. Hoje existem apenas 180 e esse número vem diminuindo cada vez mais, ou porque morrem todos os falantes ou porque muitas delas não são aprendidas como a primeira língua das gerações que estão chegando.
A língua Xipaya, por exemplo, apesar de possuir muitos descendentes vivendo no rio Xingu, em Altamira, há apenas quatro idosos semi-falantes da língua. A língua Kuruaya, por sua vez, já morreu completamente há dois anos quando seu último falante faleceu em Santarém. Com a língua, vão-se os conhecimentos da pré-história da Amazônia que não se conhece.
Sabe-se hoje que a Amazônia é um dos dois lugares do mundo onde existem povos que ainda não foram contatados. Porém, essa busca pela preservação da cultura indígena pode trazer conseqüências negativas para os nativos. Muitos não têm resistência à gripe e acabam morrendo pelo contato com o homem branco. Outra possível influência dessa aproximação é o fato de os indígenas se interessarem em aprender outras línguas em detrimento da sua.
<<O trabalho de resgate das línguas é uma responsabilidade social principalmente para uma universidade como a nossa, que tem uma grande dimensão e está situada na Amazônia>>, finalizou a professora Marília Ferreira.
Texto: Dandara de Almeida-Assessoria de Comunicação Institucional
Foto: divulgação Google
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