Participação feminina em eleições é debatida em Encontro
A baixa participação feminina em pleitos eleitorais no Brasil foi o foco das apresentações na mesa temática Gênero, poder e participação política, realizada nesta sexta-feira, último dia da programação do III Encontro Amazônico sobre Mulher e Gênero. Participaram do debate pesquisadoras das Universidades Federais da Bahia, do Rio Grande do Sul e da UFPA.
A Lei 9.100 /de 1995, que criou a Lei de Cotas para participação de mulheres em processos eleitorais, determina que 30% das candidaturas sejam do sexo feminino. Mas, apesar da cota, essa participação tem sido irrisória. No último pleito de 2006, apenas 9% dos candidatos à Câmara Federal eram mulheres. Na próxima eleição para prefeito e vereadores, o percentual não ultrapassa 21% em todo o país. O Estado com maior número de mulheres candidatas é o Mato Grosso do Sul. Para o cargo de prefeito, somente em Porto Alegre, a disputa está entre quatro candidatas.
<< Esse quadro não tem perspectiva de alteração, porque a Lei não contempla nenhum mecanismo de obrigatoriedade para os partidos, nem no sentido de incentivar as mulheres nem no de financiar campanhas. Concretamente, as mulheres estão excluídas do poder e da participação política>>, observa Ana Alice Costa, professora da UFBA.
A pesquisadora defende que, além de lutar pela aprovação de um novo modelo político, mudando a estrutura partidária e realmente dando representatividade à figura feminina, deve-se também buscar uma mudança de mentalidade, conscientizando as mulheres sobre a importância de participar da vida pública. << A discussão deve superar a questão das cotas e avançar para a paridade política. O avanço no número de candidatas também deve estar relacionado às possibilidades de eleição >>,ressalta.
A cientista política Luzia Álvares, coordenadora do GEPEM, também participou do debate. Estudiosa dos problemas da condição feminina desde a graduação, a pesquisadora agora se debruça numa pesquisa sobre mulheres na participação política e
partidária, financiada pelo CNPq, a qual busca dados que revelem como se dá a função partidária de seleção e recrutamento de candidatos para pleitos eleitorais. <<A mulher sempre teve, ao longo da democracia, uma cidadania de 2ª classe>>, afirma.
Para ela, esse é todo um processo baseado na relação mulher e poder que começa no casamento, <<quando o pai faz a entrega da filha ao marido>> e se estende para a relação poder partidário e filiados. <<A mulher participa ativamente em movimentos sociais, mas ainda não tem espaço na política partidária>>, lamenta.
<<As mulheres que conquistam cargos políticos no Brasil são vistas como <musas>, ironiza a pesquisadora Jussara Reis Prá, da UFRGS. Ela fez a exposição do estudo Mulher, poder, gênero e participação política no encerramento da mesa temática do GEPEM. Historiando as <<bandeiras feministas>>, nas décadas do século passado, mostrou o quanto a sociedade demora para incorporar as conquistas femininas. Jussara afirma que a condição da mulher, no que se refere à participação política, ainda é de <<subcidadania>>, porque não conta com financiamentos nem credibilidade para uma atuação política. <<A mulher já ocupa o percentual de 54% da população economicamente ativa e deve lutar, direta e indiretamente, pela participação nos processos de decisão nas diversas instâncias públicas neste país, por meio da elegibilidade política>>, afirma.
Educação, Literatura e Mídia
A última mesa temática do III Encontro Amazônico sobre Mulher e Gênero, do GEPEM, falou sobre Gênero, Arte/Literatura e Educação: Caminhos da Diversidade e contou com a colaboração científica das professoras Josenilda Maués, pesquisadora do Instituto de Ciências da Educação (ICED/UFPA), Eunice dos Santos (ICED/UFPA) e Scarleth O’Hara, pesquisadora do Instituto de Letras e Comunicação (ICL/UFPA).
De acordo com a professora Maués, a escolarização feminina também é uma das práticas constitutivas da demarcação das diferenças de gênero. <<As relações de gênero ainda não fazem parte do léxico dos educadores no país, o que, por sua vez, interfere no processo de formação dos professores e do conhecimento curricular das instituições de ensino>>, explicou. A pesquisadora destacou que as mulheres e a discussão sobre o papel feminino continuam inseridas apenas timidamente no campo da educação.
Foi também sobre a pouca atenção concedida aos méritos femininos na grade curricular de ensino da educação básica e superior que comentou a professora Eunice dos Santos. A pesquisadora levantou o debate a respeito de como a autoria feminina, principalmente a paraense, está ausente dos temas abordados em aulas de Língua Portuguesa e Literatura, nos ensinos fundamental e médio. <<Até mesmo no ambiente acadêmico, as escritoras paraenses ganham pouca visibilidade>>. Uma verdade preocupante, já que o espaço da educação, especialmente o da formação básica, deveria ser a instância máxima de incentivo à leitura.
Já a professora Scarleth O’Hara destacou o tema <<As faces da diversidade>>, dentro do qual abordou a maneira como as relações da contemporaneidade interferem e influenciam as tomadas de posição da sociedade acerca das relações de gênero e do <<ser mulher>> nos dias de hoje. Segundo a pesquisadora, a mídia é responsável pela criação e manutenção de diversos estereótipos sobre os papéis e comportamentos assumidos pela mulher do século XXI. A mesa foi encerrada com um momento democrático em que a platéia apresentou dúvidas a serem debatidas e respondidas pelos integrantes. Os organizadores do III Encontro Amazônico sobre Mulher e Gênero comemoraram o sucesso do evento.
Texto: Cristina Trindade - Divisão de Comunicação/IFCH e Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação Institucional UFPA