Visão distorcida sobre adolescentes tem conseqüências danosas para sociedade
Texto: Fabrício Mattos, estagiário da Agência de Notícias da UFPA
Foto: divulgação (cena do filme "Meu tio matou um cara")
Para desconstruir o olhar muitas vezes preconceituoso do senso comum sobre o adolescente, pode ser útil perceber o funcionamento dos processos de significação do indivíduo e suas inter-relações, assim como compreender as representações sociais ligadas a esses jovens. Nesse sentido, o projeto “Na trilha das adolescências: um estudo psicossocial sobre o projeto de vida de adolescentes nas escolas públicas de Belém”, coordenado pela doutora em psicologia da educação Ivany Nascimento, é um estudo pioneiro em Belém.
Realizado em seis escolas estaduais (três do centro e três da periferia), o projeto de iniciação cientifica tem atuação em três subtemáticas: contexto sócio-afetivo, projetos pedagógicos e visão dos adolescentes sobre as escolas públicas. A pesquisa foi aplicada num universo de 725 alunos do 2o e 3o ano do Ensino Médio, pertencentes à faixa etária de 14 a 24 anos. “Escolhemos esse nível de escolaridade porque é quando o adolescente é pressionado para decisões sobre o futuro, é um momento de muita angústia. Ao mesmo tempo em que a sociedade cria a adolescência, ela não garante a passagem para a fase adulta”, diz Ivany.
Através de questionários e entrevistas, a equipe realizadora da pesquisa procurou perceber o que é mais significativo para os adolescentes na sua própria perspectiva de vida. Palavras-chave como emprego, bem-estar, dinheiro e família são os pilares onde se apóia a maioria dos projetos de vida desses adolescentes, concluiu o estudo. No entanto, a família, assim como a religiosidade, assume um papel de distanciamento. A família funciona como base de sustentação, até o adolescente conseguir se estruturar economicamente, não estando inclusos vínculos afetivos nem projetos de amparo à família (como comprar uma casa melhor para os pais, por exemplo).
O projeto constatou também diferenças entre os projetos pedagógicos das escolas de centro e periferia. As escolas da periferia priorizam projetos de ação, como orientação sexual aos estudantes, estando mais voltadas para sua realidade (gravidez precoce, alto índice de evasão de pais e mães jovens). As escolas do centro estruturam seus projetos pedagógicos para a recuperação de alunos com notas baixas ou com convênios de estágio para alunos com bons conceitos. Nas escolas que tinham grêmio estudantil, as entidades não participavam da construção do projeto pedagógico. “Percebemos que as escolas não se preocupam em conhecer os adolescentes. Formulam seus projetos pedagógicos mais interessados em passar o aluno de ano. Mesmo que o projeto pedagógico seja interessante, há uma grande lacuna entre o que existe no papel e a realidade. A escola acaba não desenvolvendo seu fim, que é formar cidadãos”, afirma Keite Ramos, ex-bolsista do projeto e que agora está escrevendo seu trabalho de conclusão de curso com base na sua pesquisa sobre projetos pedagógicos.
Nas entrevistas com os coordenadores das escolas, Keite relata que chegou a ouvir frases como: “os adolescentes não tem projeto de vida, eles não pensam”. Quando perguntados sobre a criação de uma instância de participação dos jovens, de formação de conhecimento e reconhecimento social, os coordenadores afirmavam que não havia possibilidade de inserção do jovem na construção do projeto pedagógico por causa do prazo da entrega (primeiro semestre do ano). “Os projetos não contemplam espaços de discussão. Não estão alertando para uma cultura estudantil”, diz Keite.
O projeto ainda renderá tema para três trabalhos de conclusão de curso e para a próxima reunião da SBPC Regional, em Fortaleza. Também já foi apresentado na VII Conferência Internacional de Representaciones Sociales, que aconteceu no México, e ainda no Encontro Nacional de Pesquisa em Educação na Amazônia e no II Seminário de Pesquisa Educacional do Centro de Educação da UFPA. O trabalho de Keite Ramos foi premiado no XV Seminário de Iniciação Científica. Ela irá apresentar o trabalho em evento nacional com direito às passagens e ajuda de custo, além de receber uma placa de mérito.
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