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Pesquisa analisa condições dos assentamentos informais em Belém

    Texto: Fabrício Mattos, estagiário da Agência de Notícias UFPA

 

    Foto: João Sérgio

 

    Alagados, morros e várzeas são espaços que o sistema imobiliário não quer. Nessas áreas, sem estrutura de moradia, populações de baixa renda normalmente constróem suas habitações de forma aleatória, dando origem aos assentamentos informais. Tempos depois, esses assentamentos saem da condição de informalidade e vão se consolidar como bairros populares. É o caso do Guamá e do Paracuri,na região metropolitana de Belém.
     No Guamá, a ocupação das áreas alagadas foi feita próximo aos setores urbanizados, sendo uma questão de tempo para a formação de redes urbanas e o melhoramento da situação de vida daquela população. “A população mais pobre quer proximidade, fontes de renda e transporte, por exemplo”, afirma Ana Cláudia Cardoso, chefe do departamento de Arquitetura da UFPA e pesquisadora de Planejamento Urbano. “Diferentemente do Paracuri, onde o espaço é muito homogêneo e não há muito fluxo de pessoas, no Guamá as pessoas estão voltando às escolas, as famílias têm uma renda maior, não estão isoladas. Quando o poder público une um aglomerado de casas com uma rua, as condições de acesso aos serviços básicos melhoram”, explica Ana Cláudia.
    Doutora pela Escola de Arquitetura da Oxford Brookes University, no Reino Unido, Ana Cláudia desenvolve a pesquisa “Forma urbana informalmente produzida como recurso para a superação da pobreza: assentamentos informais em Belém”, onde analisou os casos do Guamá, Paracuri, Benevides. A pesquisa tem como meta mais cinco cidades da região do Baixo Tocantins. Coletando indicadores sócio-econômicos, fotos aéreas e informações com os órgãos públicos, ela traça um histórico “georreferenciado” de como se configuraram as áreas que hoje são bairros populares. Variáveis como localização, tempo e configuração são essenciais para entender como a população se relaciona com o espaço.
    A ausência do Estado e sua visão tradicional sobre políticas de saneamento e reestruturação espacial traduzem-se no quadro de precariedade em que estão as populações mais pobres da periferia da Região Metropolitana de Belém. A drenagem é percebida como escoamento de água, a pavimentação como abertura de vias para automóveis. Não se leva em consideração os impactos causados às populações dessas áreas. Um planejamento adequado às especificidades de cada região transforma o quadro social. “O espaço ajuda. Se a gente tivesse uma política de desenvolvimento urbano que percebesse esse fim, seria diferente. Esta é minha luta. Quero que as pessoas adquiram consciência da importância que tem um planejamento específico para cada região”, diz a professora.
      O Projeto, de um ano e quatro meses, é trabalhado por Ana Cláudia em duas disciplinas do curso. Os alunos vão a campo conhecer a realidade destas populações. Um trabalho de conclusão de curso e uma dissertação de mestrado estão sendo produzidos com base nos dados recolhidos. Será lançado um livro sobre a primeira parte do projeto e existe um banco de dados com as informações e mapas elaborados a partir da pesquisa. Este banco de dados será disponibilizado depois da conclusão da pesquisa, que pretende abordar o máximo de cidades possíveis para construir uma metodologia própria de planejamento para a região Amazônica, já que a literatura de planejamento que existe sobre nossa região é, em sua maioria, produzida no Centro-Sul. “É o início de um movimento para que possamos nos colocar no país com nossas especificidades. Entender como essa população muito pobre se relaciona com o espaço. Queremos ajudar na formulação de políticas públicas e levar os resultados para a população”, afirma Ana Cláudia.

Publicado em: 27.01.2005 14:10