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Jarina: a semente que custa pouco e rende muito

Quem quiser ganhar dinheiro, na Amazônia, tem uma opção muito lucrativa: comercializar manufaturas feitas com jarina. Essa é a mensagem das entrelinhas do livro Jarina - O Marfim da Amazônia, escrito e financiado pelo professor de Geologia da UFPA, Dr. Marcondes Lima da Costa, com a co-autoria do geólogo Helmut Hohn e da estudante de mestrado Suyanne Rodrigues. Desde os aspectos físicos até os possíveis usos comerciais da semente são tratados nas 156 páginas da publicação.

 

Jarina é a semente de uma espécie de palmeira de igual nomenclatura. De beleza comparável ao marfim, quando beneficiada, a semente resulta em peças de alto valor comercial e simbólico, como bijuterias e biojóias. A árvore é encontrada em sub-regiões amazônicas na Bolívia, no Peru, na Colômbia, no Equador e no Brasil. Neste último, especificamente, nos Estados de Rondônia, Acre e Amazonas.

 

Há 300 anos, os povos indígenas utilizavam a jarina para fins comestíveis e para a produção de adereços. Mas a semente é de conhecimento público recente. As pesquisas sobre ela, na UFPA, datam do final da década de 1990, capitaneada pelo Prof. Marcondes. E quando se trata de comercialização, a história se torna ainda mais incipiente.

 

No livro, o professor aborda os vários aspectos da semente. Começa com uma análise botânica geral, apontando dados sobre o perfil da palmeira e as condições de crescimento. Segue-se a caracterização física da semente, com as propriedades que potencializam a jarina como uma mercadoria de alto valor agregado.

 

“Nós analisamos os aspectos físicos e constatamos que a semente possui dureza e resistência aos ácidos”, conta o professor. Assim, as peças podem durar de 5 a 10 anos, com os cuidados necessários (evitar contato com microrganismos, ter pouco contato com a pele e conservar em ambiente protegido da luz e da umidade). A jarina também apresenta grande porosidade, o que facilita os processos de melhoramento da semente, como pinturas, tingimentos e cozimentos.

 

Por ser semelhante ao marfim animal, a semente tem um forte apelo ambiental. Sua utilização pode ser uma forma de substituir a extração do marfim de animais, ainda que a qualidade e a durabilidade do marfim vegetal sejam comparativamente menores.

 

Além das vantagens intrínsecas à semente, há o fator financeiro: o investimento em mercadorias feitas com jarina é de baixo custo de extração e beneficiamento. Na publicação, o professor apresenta alguns valores: uma semente bruta, por exemplo, custa R$ 0,02; sem a casca, o preço é R$ 1,50, a unidade. Esses números se tornam mais expressivos quando comparados aos preços de produtos. Bijuterias custam entre 25 e 45 reais. Já as biojóias são vendidas a preços acima de R$ 65,00. Entalhes, mini-esculturas e chaveiros, normalmente, são encontrados nos valores de 10 a 17 reais.

 

Marcondes Lima também reserva um capítulo do livro para explicar passo a passo como acontece o processo de mercantilização de acessórios feitos com a semente. Ele indica fornecedores, lojas e pontos turísticos onde já se comercializam bijuterias e biojóias, tudo para incentivar a indústria da jarina.

 

O professor ainda analisa a política extrativista e industrial da jarina no Estado do Acre, onde a economia da semente está mais avançada. Ele reflete que a sustentabilidade da produção depende da não-degradação e extração controlada da semente. “A jarina não acaba. Ela é uma palmeira de fácil reprodução na mata. A semente cai no solo e, se tiver espaço para se desenvolver, ela cresce. Só não pode extrair tudo, porque se acaba a semente, não há como a planta se reproduzir”, explica.

 

Quanto ao Pará, a economia da jarina ainda recente de reconhecimento e investimentos. Na capital, comercializa-se a semente já beneficiada, principalmente, como bijuteria e biojóia. Não há cultivo e extração da jarina no Estado e a circulação é muito limitada. O panorama paraense se justifica pelo baixo desenvolvimento do turismo. “É preciso  uma grande circulação de pessoas. O Pará ainda não tem um turismo significativo, devido à insegurança e a um sistema hoteleiro fraco. E quem compra esse tipo de produto feito com jarina são os turistas”, analisa o geólogo.

 

Quem quiser adquirir o livro, ele está disponível na livraria da UFPA. É uma boa dica para quem está pensando em montar um empreendimento.

 

Texto: Suzana Lopes - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

Foto: Mácio Ferreira

Publicado em: 31.10.2008 15:44