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Vídeos para o ensino de neurociências e biologia animal

Clebson Júnior é um menino que vive em Vigia, município do interior do Pará. Ele estuda, brinca, corre como qualquer criança. Em um de seus passeios no meio da mata, um ouriço de castanha se desprende da árvore e cai sobre a cabeça do garoto. O choque provoca-lhe uma grave fratura no crânio e afeta a parte do cérebro responsável pelo controle dos membros inferiores e superiores. O quadro clínico é triplegia (ele perdeu o movimento das duas pernas e de um braço).

 

A história da lesão de Clebson foi documentada pela equipe do professor doutor Cristovam Picanço Diniz, da Faculdade de Ciências Biológicas da UFPA. Com o projeto “Educação em neurociências a partir de histórias reais: neuroanatomia baseada em evidências por meio de casos clínicos”, o pesquisador produz vídeos didáticos que levam a biologia em movimento e o contexto social para a sala de aula.

 

“Nós não levamos o ensino puro e simples do sistema neurológico para a turma. O que buscamos é mostrar para os alunos que o paciente que ele vai atender, na fase clínica de sua formação, tem uma história, uma vida que não pode ser esquecida e contém informações preciosas para a recuperação”, afirma Cristovam Diniz. “A principal motivação do projeto é, justamente, levar para a sala de aula o que nunca vai se fazer o aluno enxergar no consultório ou no hospital”, complementa.

 

Para isso, são produzidos vídeos-documentários para serem utilizados em sala de aula. A produção é feita em três etapas. Primeiro, identificam-se casos clínicos que envolvam o sistema neurológico. Essa triagem é feita no Hospital Metropolitano, com o auxílio do neurocirurgião e também professor da UFPA, Edmundo Pereira. A partir da escolha do caso, a equipe (formada por estudantes dos cursos de Medicina, Ciências Biológicas e Biomedicina, além do mestrando Fábio Rendeiro) vai atrás da história por trás do paciente, visitando o contexto sociocultural em que ele se insere e acompanhando sua recuperação.

 

Após a captura das imagens, acontece a edição do vídeo, com a narração, a animação de imagens e a descrição dos sintomas, de maneira informal e didática. O resultado é um material rico de informações para ser utilizado em sala de aula e tornar o ensino um prazer em vez de obrigação. “A disciplina neuroanatomia é dada logo no primeiro semestre do curso. Quer dizer, o aluno mal começa a graduação depois do vestibular e já tem que aprender um assunto complexo. Com o vídeo, a tarefa complexa de memorizar nomes e funções é enriquecida com o aprendizado da biologia humana, sempre fazendo a relação com a realidade geográfica e cultural”, comenta Cristovam Diniz.

 

Ensino básico


O projeto de ensino de neurociências por vídeos didáticos está inserido em um programa nacional de Educação para Ciência, que envolve mais de vinte universidades de todo o Brasil. A produção audiovisual não se direciona apenas aos estudantes do Ensino Superior. Alunos do 6º ano do Fundamental à 3ª série do Médio também são o público do programa.

 

A equipe do Professor Cristovam Diniz, por exemplo, também já produziu um vídeo sobre a biologia de animais amazônicos. A personagem foi a jiboia, uma cobra frequente em nossa região. O conceito é o mesmo do vídeo de casos clínicos: inserir o ensino da biologia no contexto social. Assim, o vídeo “Os Caminhos da Serpente” mostra não só o réptil e sua anatomia, mas também as situações, comuns no interior do Estado, em que o animal está inserido no cotidiano das pessoas.

 

Além dos vídeos, o Programa Educação para Ciência também prevê a promoção de cursos de férias para alunos dos ensinos Fundamental e Médio. “Nós já fizemos oito edições de oficinas nos municípios de Belém, Oriximiná e Bragança. Os cursos duram duas semanas e o método impõe que os próprios estudantes descubram a resposta para as suas perguntas. Como? Experimentando e refletindo sobre os experimentos”, relata o professor. Ele leva seus alunos da universidade para atuarem como monitores das oficinas. “Os monitores são proibidos de dar respostas. Apenas dão indicações para que os demais estudantes as encontrem”.

 

O resultado de um ensino de ciências diferenciado é sentido pelo interesse que é despertado nos alunos. “Nas experiências que tivemos, nós vimos como os olhos daqueles meninos brilhavam quando descobriam a razão das coisas por si mesmos. Por incrível que pareça, a maior dificuldade que tivemos foi quando fizemos uma oficina em Belém. Parece que, no interior, o aluno se dedica mais e coloca todo o seu empenho naquela oportunidade que parece única”, conta.

 

O projeto continua


O Educação para Ciência é um projeto de longo prazo e as produções continuam. O professor Cristovam e sua equipe já trabalham no próximo vídeo, “Água Grande”, que contará a história de animais que são colocados em situações-limite. No final, os produtos audiovisuais sobre neuroanatomia formarão uma coleção de DVDs, que ficará disponível para fácil acesso via internet (clique aqui e veja algumas produções). No caso dos vídeos para o Ensino Básico, assim que eles ficam prontos, são distribuídos para as escolas da rede pública.

 

Realizados pelo Laboratório de Neuroanatomia Funcional da UFPA, este ano,  parte dos trabalhos foram transferidos para o Laboratório de Neurodegeneração e Infecção, localizado no Hospital Universitário João de Barros Barreto, enquanto se concluem as obras do Laboratório de Áudio e Vídeo do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA. O Projeto recebe investimentos do FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

 

Clique aqui  e confira uma entrevista do Professor Cristovam Diniz, publicada no site da Revista Bio, da Univerisidade Federal do Rio de Janeiro.

 

Texto: Suzana Lopes - Assessoria de Comunicação Institucional

Foto: Mácio Ferreira

 

Publicado em: 02.02.2009 14:21