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Pesquisadores farão dicionário de línguas indígenas

      Texto: Alan Araguaia, estagiário da Agência de Notícias da UFPA


      Um importante trabalho de resgate da cultura indígena está sendo realizado na UFPA, por meio do projeto “Documentação, descrição e preservação de línguas indígenas amazônicas ameaçadas de extinção”, com patrocínio da Petrobrás. O lançamento será hoje (05/04) no auditório do Centro de Letras e Artes (CLA), às 16hs. O projeto é ligado ao grupo de pesquisa de línguas indígenas da UFPA, do Laboratório de Linguagem.
      A progressiva extinção das línguas indígenas é um fato preocupante, já que, com elas, perde-se também a história desses povos, conhecimento importantíssimo para a sobrevivência cultural deles. “As línguas pesquisadas têm pouquíssimos falantes, em geral idosos. Se conseguirmos documenta-las hoje, as gerações mais novas terão acesso pelo menos à parte das línguas”, afirma o pesquisador Sidney Facundes.
      Apesar de o projeto estar sendo lançado hoje, ele é a continuação de um relacionamento com as comunidades indígenas que já dura mais de dez anos. Há uma estreita relação de confiança entre os pesquisadores e os indígenas, pelo compromisso firmado de produzir, com essas pesquisas, materiais que eles mesmos possam utilizar, principalmente na educação. O objetivo principal dessa fase das pesquisas é a publicação de dicionários bilíngües para as línguas Anambé, Apurinã, Makurap, Parkatejê e Xipaya, além de um vocabulário semântico bilíngüe para a língua Asuriní, do Xingu. “Esse projeto vai focalizar o léxico da língua, pois é aí que está codificado o conhecimento produzido nessas línguas, está registrada a cultura material dos povos”, explica Sidney. Não se trata apenas de traduzir para o português, como o pesquisador ressalta. Serão produzidos textos sobre as utilidades das coisas que compõem as vidas das tribos. Serão produzidos, por exemplo, dicionários específicos sobre a flora e a fauna, nada menos do que tudo que cerca o mundo físico dos índios. Dada a complexidade desse trabalho, cada um dos pesquisadores do grupo é responsável por pesquisar uma das seis línguas. Além de não ser uma simples tradução para a língua portuguesa, a pesquisa leva em conta que o português utilizado pelos índios não é o formal, mas o do caboclo amazônico, cheio de peculiaridades.
      Todas as informações coletadas são compiladas em um banco de dados, que é a alimentação dos dicionários. “Essa é a parte mais complicada, porque pesquisamos a pronúncia e os diversos significados de cada palavra”. Para isso, foi fundamental o financiamento externo, por meio do qual foram obtidos dois computadores modernos e todo o material de campo. “Nós utilizamos entrevistas, questionários e material visual como estímulo. Se eu simplesmente ´pego´ o nome de um tipo de ave, na língua deles pode significar várias espécies”. Sidney Facundes atenta para a importância de compreender a fundo a visão de mundo dos indígenas para obter resultados fiéis. Segundo o pesquisador, as palavras estão envolvidas em discursos próprios e nunca devem ser dissociadas desse contexto.
      A tarefa a que os pesquisadores se comprometem é a de fornecer instrumentos para auxiliar a manutenção e revitalização das línguas indígenas ameaçadas de extinção. Se isso significa que os indígenas irão recuperar sua cultura, depende de uma política nacional de apoio e de respeito aos grupos minoritários. “A discriminação age com o efeito de separar cada vez mais os índios de suas origens, já que a resposta natural deles é se voltar para o modo de vida dos brancos para serem respeitados”. Sidney considera que essa conversão não se configura na aquisição da identidade branca, mas na perda da própria identidade, pois os índios sempre serão vistos como índios, mesmo agindo como brancos. “Se é difícil para eles sobreviver materialmente, imagine manter viva a cultura?! Quando eles percebem nosso interesse sobre sua história, o peso de séculos de discriminação diminui”.
Publicado em: 13.04.2005 11:17