Desenhos feitos por crianças motivam estudo em Artes
Texto: Alan Araguaia, estagiário da Agência de Notícias da UFPA
Imagem: www.marel.pro.br
A falta de compreensão sobre a real função do professor de Artes nas escolas primárias e secundárias leva a sérios equívocos por parte das administrações escolares. A atuação do professor é pulverizada em diversas atividades - como decoradores de eventos, consultores de vestimentas, professores de apoio -, as quais nem sempre estão de acordo com as suas competências, sem contar a exígua carga horária destinada à disciplina. São as críticas de Ísis Molinari Antunes, que acaba de defender a monografia intitulada “Imagens gráficas de crianças (5 a 7 anos): estudos sobre a imaginação criadora e a percepção”, no curso de especialização em Semiótica e Artes Visuais, do Núcleo de Artes da UFPA.
Suas inquietações a levaram a estudar o desenho infantil (imagens gráficas), sob uma perspectiva semiótica, que é o estudo das simbolizações, abordagem baseada nas teorias de Lúcia Santaella. “Acredito que através do estudo sistematizado a área da arte poderá crescer, novas propostas poderão ser elaboradas e a quebra de dogmas educacionais poderá ser efetuada”.
Ísis propõe um rompimento com o caráter que tem hoje o ensino de Artes, “fruto de muitos anos de uma história que já teve um mau começo”. Para ela, a “Cultura visual”, como já acenam as universidades, poderá ser uma saída para a questão. A introdução dessa nova disciplina demandaria tempo à formação do profissional, que deveria ter também a especialidade para a licenciatura, e não somente para as poéticas visuais. “Falta ao professor licenciado uma bagagem cultural mais ampla, há déficit de aprendizado de metodologias educacionais mais apropriadas para todas as faixas etárias que se deseja lecionar, psicologias educacionais, filosofia, história da arte e semiótica”.
O método utilizado foi o estudo de caso e a observação participativa, na qual o pesquisador não mantém afastamento em relação ao objeto. “Como sou professora de Educação Infantil, escolhi aleatoriamente doze alunos de alfabetização de uma escola de Belém, e observei os seus desenhos durante todo o ano letivo de 2004”, relata Isis. O primeiro passo foi não reproduzir os vícios de interpretação encontrados a partir da leitura dos desenhos infantis, como por exemplo as interpretações psicológicas projetivas. “Interpretar a arte e o desenho infantil já é um equívoco, pois fatalmente essas manifestações serão categorizadas. Vêm de longe essas tendências de formatar o desenho infantil”. Os principais resultados da pesquisa foram a constatação da falta de coerência dos estudiosos em estratificar o desenho infantil em fases, da dificuldade em estabelecer os limites entre a percepção e a atividade criadora e a incompatibilidade entre as teorias estudadas e a realidade atual. “Conclui que o desenho infantil é uma forma de manifestação da linguagem com suas peculiaridades e deve ser respeitado como tal, equiparado às outras formas”.
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