Águas subterrâneas são mais viáveis para o consumo humano
Embora a maior parte da superfície da Terra seja coberta por água, 97,5% dela é salgada e encontra-se nos mares e oceanos; 1,7% está sob a forma sólida em geleiras e calotas polares deixando apenas 0,8% disponível para o consumo humano. Desse total de água potável no mundo, cerca de 4% estão sobre a superfície, em lagos, rios ou, ainda, na forma de vapor. Os outros 96% estão debaixo dos nossos pés, nas águas subterrâneas. De acordo com o pesquisador Milton Matta, elas seriam a fonte ideal de água para o abastecimento urbano em Belém. E é justamente a qualidade da água que será o tema do Dia Mundial da Água, celebrado nesta segunda-feira, dia 22 de março.
O professor da Faculdade de Geologia do Instituto de Geociências da UFPA, Milton Matta, acrescenta outras vantagens a essa fonte de recursos hídricos. “Além de estar em maior quantidade, essa água é mais pura, está melhor protegida de agentes contaminantes, sofre menos evaporação, apresenta melhor qualidade físico-química e bacteriológica e é mais barata para o consumo. Isso porque sua exploração se orienta para a implantação de pequenas redes de distribuição, portanto, mais econômicas, fáceis de construir e de manter. É ideal para o abastecimento de Belém”, argumenta.
Os estudos coordenados pelo pesquisador no Laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (LARHIMA), do Instituto de Geociências da UFPA, indicam que existem reservas subterrâneas de água de mais de 10,68 bilhões de metros cúbicos de água sob os municípios de Belém e Ananindeua. “Não há outro lugar do mundo com maior descarga de água doce que na Amazônia. Por que, então, na Região Metropolitana de Belém falta água nas torneiras ou ela chega com baixa qualidade? Não há crise da água, porque não temos falta de água no mundo. Há crise de gerenciamento de água. É a nossa forma de exploração deste recurso que deve ser questionada”, defende.
Milton Matta diz, ainda, que a conscientização da população sobre o uso de recursos hídricos é importante, mas que, infelizmente, significa pouco nos cálculos do desperdício do recurso. “70% da água potável usada no mundo está voltada para a agricultura; 20%, para as indústrias e apenas 10%, para o abastecimento público. Quer dizer que estamos nos esforçando para economizar apenas um percentual desses 10%. Comparativamente, sabemos que 60% do total de água utilizado na agricultura é desperdiçado e, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), se baixássemos esse nível de desperdício para 50%, esses 10% economizados seriam suficientes para abastecer o dobro da população humana mundial”. Entre os principais projetos do LARHIMA, o pesquisador destaca:
- Água Mineral: Pesquisa revela que a água mineral comercializada em Belém é potável, mas não mineral e que os índices de acidez estão acima do permitido. “O pH neutro tem nota 7. Pela legislação, para que não apresente riscos à saúde humana, a água deve ter pH entre 6,5 e 8,5. Constatamos que as garrafinhas vendidas na cidade tem pH menor que 4 e podem estar prejudicando a saúde do estômago das pessoas”, conta. A pesquisa pretende continuar, agora, por um período mais amplo. Durante um ano, o LARHIMA quer acompanhar, com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e com o Ministério Público, as empresas que comercializam a água mineral para verificar como melhorar a qualidade da água consumida na Região Metropolitana de Belém (RMB).
- Projeto Bacia do Mata Fome: Um trabalho interdisciplinar do LARHIMA pretende desenvolver 20 estudos específicos sobre a comunidade que vive no entorno do Igarapé do Mata Fome, na área dos bairros do Tapanã e da Pratinha. “Já realizamos vários estudos hídricos e geológicos e constatamos o falecimento iminente do Igarapé por mal uso do recurso e falta de saneamento básico. São cerca de 70 famílias que estão consumindo água contaminada, mesmo após intervenção para a construção de poços artesianos para o abastecimento local”, revela Milton Matta. “A população da área está sofrendo com doenças ligadas ao problema do abastecimento de água. O Igarapé está se transformando em esgoto a céu aberto, mas ainda pode ser recuperado e temos ferramentas para isso”, assegura.
- Poços: Outros estudos concluíram que há mais de 20 mil “poços amazonas” espalhados pela RMB. “São pontos de coleta de água rasos e mal projetados, cujo líquido não é recomendado para o consumo. Baldes e cordas velhos e sujos pioram as condições da água ali recolhida. Esses poços são focos de doenças e deveriam ser desativados, mas como pedir para alguém fechar sua única fonte de água?”, questiona.
Texto: Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA
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