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Pedagogos discutem questões educacionais e políticas públicas em seminário encerrado na sexta-feira

     Um espaço de interlocução, reflexão e análise das tendências curriculares e políticas públicas educacionais contemporâneas. É o que se propôs a ser o IV Seminário de Políticas Educacionais e Currículo, que ocorreu nos dias 15 e 16 de dezembro, no Hotel Regente. O tema do evento faz referência às duas linhas de pesquisa do programa de mestrado acadêmico em educação da UFPA, que são justamente políticas públicas educacionais e currículo. “Apesar de serem distintas, essas duas linhas se entrelaçam, funcionando articuladamente”, disse Rosângela Novaes Lima, coordenadora do seminário. A professora explica que o evento é um balanço do que foi produzido pelos pesquisadores no ano de 2005, como teses, artigos e dissertações.
   Na sexta-feira, cerca de duzentos inscritos participaram de conferência, duas mesas-redondas, doze grupos de trabalho e quatro mini-cursos. O sub-título do seminário refere-se às perspectivas contemporâneas para a área. Pelo que diz Rosângela Lima, tais perspectivas não são boas. “Temos uma educação pobre para os pobres, e um govermo que cria o ProUni, um programa que deixa de cobrar impostos para o ensino privado em detrimento do público”, critica. Segundo ela, o governo não está vinculando a educação pública ao seu projeto de Nação. “Precisamos de recursos para a educação pública. A universidade pública é a que mais produz pesquisa, apesar de todos os percalços”.
   Outra questão levantada pela professora é a da descentralização do ensino. Rosângela Lima afirma que o governo descentraliza recursos mas não descentraliza o poder decisório. “O ensino deve ser vinculado aos municípios, porque é a esfera mais próxima da população”, defende, “o prefeito continua com o pires na mão diante dos governos federal e estadual. Não tem autonomia para gerir”. Diante desse estado de coisas, Rosângela acredita que há ainda muito a ser feito para que tenhamos uma educação digna no Brasil. O descaso começa na educação infantil, que não vem sendo vinculada às questões sociais e não prepara a criança para outros níveis de ensino ou para se tornarem futuros educadores. “Eu entendo que a formação do educador começa desde a infância”.
   No segundo dia do seminário, a mesa-redonda “Currículo: questões identitárias e pós-identitárias”, contou com as presenças de Márcia Gurgel, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Paulo Almeida e Josenilda Maués, professores da UFPA.  Salomão Hage, também da UFPA, coordenou os trabalhos. Paulo Almeida leu um artigo no qual analisa o discurso do governo sobre a reforma universitária. O pesquisador se referiu inicialmente ao governo FHC, o qual definiu, ironicamente, como um “prodígio” na intenção de formatar o Estado de acordo com os objetivos do capital. Segundo ele, isso se refletiu na educação, que precisou se readaptar à economia globalizada. A partir do governo Lula, com o ante-projeto de reforma universitária, Paulo Almeida diz que houve uma mudança de rumos no sentido de primar pela equidade, qualidade e compromisso social. “Há uma força normativa no ante-projeto assentada nessa trilogia”, disse.
   Josenilda Maués tratou mais propriamente sobre a questão da identidade do sujeito. Ela buscou explicar porque alguns são considerados normalizados e outros marginalizados. Para Josenilda, é fundamental que a questão da homossexualidade seja abordada sem barreiras morais na sala de aula. “Eros intensifica e potencializa o processo de educação”. A professora citou o psicanalista austríaco Sigmund Freud: “nós não somos donos da nossa casa. Ou seja, não somos homo ou hetero, mas estamos”.
   Márcia Gurgel, em sua intervenção, se mostrou preocupada com a relação entre vida dinâmica e a teoria produzida na academia. “Para mim, é impossível conciliá-las no cotidiano. O importante é compreender que a realidade e a discussão são coisas inacabadas”. Ao trazer essa reflexão para o foco do debate, a educação, Márcia define o processo educacional como angustiante. “Jamais iremos entender a completude dos fenômenos. As pessoas se educam nas relações que são estabelecidas, o que pressupõe o movimento do sujeito sobre o mundo, o seu olhar sobre os outros sujeitos e o que ele mesmo pode vir a ser”.(Texto Alan Araguaia)

Foto:  A mesa do painel "Currículo: questões identitárias e pós-identitárias"

Publicado em: 16.12.2005 17:43