Bairros da Cidade Velha e Comércio já perderam 50% de fachadas azulejadas
Os tradicionais azulejos que embelezavam as fachadas dos bairros da Cidade Velha e Comércio desde o século XIX estão desaparecendo de Belém. Um levantamento recente revela o desaparecimento de 50% dos azulejos em relação ao estudo feito em 1970, pela professora Dora Alcântara.Embora o levantamento não tenha atingido a totalidade das fachadas do centro Histórico da capital, a professora da Universidade Federal do Pará, Thaís Sanjad, especialista em azulejos, diz que a perda detectada é preocupante. Para se ter idéia do problema, só no trecho que compreende as avenidas Portugal, 16 de Novembro, Tamandaré e adjacências existem apenas 49 casarões com as fachadas azulejadas conforme mostra o Trabalho de Conclusão de Curso da universitária Lia Soares Bastos, da Universidade Federal do Pará batizado de “Casario da Travessa Marquês de Pombal: Resgate das Linhas Originais com Revitalização da Identidade das Fachadas Azulejadas”. Durante um
ano, a universitária procurou documentos na Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel) e Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O estudo será apresentado no dia 19 deste mês ( maio), na UFPA e levanta a questão da preservação deste patrimônio arquitetônico cultural da cidade. “Muitas fachadas
foram modificadas não só pelo abandono, mas também pelos próprios moradores. Além disso, a ação dos vândalos que roubam os azulejos para a venda também contribuiu para essa triste realidade”, afirma Lia.
Para os moradores mais atentos basta andar pelo centro histórico da capital paraense para perceber que muitas fachadas foram transformadas pelos donos dos imóveis ou por terceiros. Muitas foram pintadas, outras rebocadas por completo, um exemplo da falta de conhecimento histórico da importância destas relíquias culturais da cidade, que se confundem com a história da própria colonização portuguesa na região. Os azulejos chegaram ao Brasil no século XVII, mas o uso deles nas fachadas se difundiu no século XIX, durante o período áureo da borracha. Diversas edificações como residências e igrejas tinham azulejos em suas fachadas e representavam poder e prestígio. O exemplo disso está nas fachadas do Palacete Pinho e Facíola, entre outros na capital do Estado. Com a ação do tempo e a falta de conhecimento da melhor forma de preservar as fachadas azulejadas, muitas delas foram se perdendo e continuam em franco processo de desaparecimento. Para tentar mudar este quadro, a professora Thaís Sanjad vai coordenar a oficina “Azulejo de Belém: História e Conservação”, que será realizada nos dias 8, 10 e 13 deste mês, no Palácio Velho, na Cidade Velha.
A oficina, que faz parte do projeto “Landi:Cidade Viva”, coordenado pelo Fórum Landi da UFPA e patrocinado pela Companhia Vale do Rio Doce,por meio do Cultura Pará,
será direcionada para as pessoas que possuem casas com fachadas azulejadas. O objetivo é ensiná-las a limpar e remover as indesejadas sujeiras que dificultam a preservação. Durante a oficina, a professora vai apresentar os diversos estilos de azulejos e as formas para mantê-los.
No segundo dia de oficina será realizada uma aula prática para mostrar como deve ser feita a limpeza e preservação dos azulejos para que possam resistam a ação do tempo. Desde os azulejos portugueses, mais comuns no Centro Histórico, até franceses, ingleses e alemães, que chegaram em Belém, no final do século XIX.
No último dia de oficina, previsto para o dia 13 de maio, os participantes devem fazer um passeio pelo Centro Histórico e conhecerem de perto os prédios e casarões que
continuam estampando a beleza dos azulejos em suas fachadas. Beleza cada vez mais rara como os próprios casarões. “Queremos levar informações para que os próprios moradores possam preservar este patrimônio cultural que temos. Quem conhece é capaz de preservar e cuidar dos azulejos raros e belos que compõem nossa arquitetura”, afirma Thaís Sanjad.
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