Pesquisa inédita demonstra os números da obesidade infantil em Belém
Grande parte das crianças de hoje prefere brincar no computador do que correr na rua. Na hora do recreio, abusam de massas, doces e refrigerantes que a própria cantina da escola oferece. São tendências de comportamento infantil, principalmente nas classes média e alta, que têm um reflexo na saúde dessas novas gerações. Um estudo da aluna Ariane Souza, do curso de Nutrição da Universidade Federal do Pará, demonstrou que o percentual de obesidade em crianças de 3 a 12 anos é de 19%; enquanto o percentual de sobrepeso é de 23%. O sobrepeso geralmente antecede a obesidade, embora nesta etapa a criança ainda não corra graves riscos de saúde. O trabalho é o primeiro que apresenta dados numéricos sobre obesidade infantil no Pará.
A pesquisa foi feita para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Ariane, apresentado em abril deste ano. A orientação ficou por conta da professora Darlene Roberta Ramos, do departamento de Nutrição da UFPA. A estudante contou ainda com a co-orientação da nutricionista Luíza Margareth Carneiro. Foram analisados 74 meninos e 76 meninas em três clínicas pediátricas particulares de Belém. A maior parte deles (37,4%) tinha de três a quatro anos e 11 meses de idade. Todos foram medidos e pesados; os pais responderam a um formulário com questões sobre aspectos sócio-demográficos (escolaridade e renda), e também sobre aspectos de comportamento e de alimentação dos filhos. Não foram considerados na pesquisa os casos de obesidade decorrentes de síndromes ou outras doenças, que correspondem de 5 a 10% do total. O trabalho levou em conta apenas as situações de excesso de peso devidas principalmente à alimentação e à prática de atividades físicas (ou ausência delas).
A análise dos dados comprova o que já se sabe: que o número elevado de crianças acima do peso está diretamente associado à uma alimentação recheada de carboidratos (açucares) e lipídeos (gorduras) e ao tempo passado em frente ao computador, televisão e video-game. A pesquisa vai mais além e demonstra que a alta escolaridade dos pais (a maioria tem formação média ou superior) e um nível de renda satisfatório ou alto da família também estão relacionados ao problema obesidade. Um dado interressante e preocupante é que apenas um pequeno número dos pais das crianças acima do peso reconhece o problema. A maior parte considera normal o filho ser gordinho e não procura nenhum tipo de informação ou tratamento.
A pesquisa aponta ainda que o hábito de possuir um horário certo para as refeições não é relevante para o ganho de peso, assim como o sexo ou a idade das crianças. O trabalho não comprovou se o passado de aleitamento materno ou de alimentação depois do desmame é importante ou não, mas Ariane afirma que são necessários mais estudos nessa área. De qualquer forma, ela salienta que é fundamental a criança ser alimentada até os seis meses de vida exclusivamente com leite materno e até os dois anos de idade acompanhado de outros alimentos.
Segundo Ariane, o tratamento para crianças obesas deve ser multidisciplinar, com acompanhamento de um pediatra, um nutricionaista, um profissional de educação física e um psicólogo. Deve ser levado em conta que, com o processo natural de crecimento, não é preciso fazer a criança emagrecer, mas apenas manter o peso sem engordar mais.
A inclusão da educação nutricional no currículo escolar é apontada pelo trabalho como uma medida importante no combate à obesidade na infância. A prática de atividades físicas também deve fazer parte da vida de toda criança. Para os que sofrem com o excesso de peso, não são recomendadas atividades competitivas que os deixem em desvantagem. Ariane indica o balé, ou qualquer outro tipo de dança, ou mesmo o futebol e artes marciais como atividades para os meninos e meninas que já passaram do limite na balança.
Texto: Jones Santos/
Imagem: http://www.acessa.com/viver/arquivo/nutricao/2004/10/14-obesidade/
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