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Faltam pesquisas nas indústrias brasileiras

   O país carece de cientistas e pesquisadores nas indústrias nacionais o que tem prejudicado o desempenho do país no competitivo mercado mundial de produção de conhecimento e de tecnologias inovadoras. Esta foi a principal questão apresentada na conferência “A Universidade, as Pesquisas e as Empresas”, com a participação de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP e como debatedor Alex Fiúza de Melo, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA). A conferência foi realizada na tarde desta terça feira (18), no auditório da reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) dentro da programação da 58ª Reunião Anual da SBPC.
   “O dinheiro do contribuinte construiu uma base acadêmica sólida, mas ainda não conseguiu construir uma base industrial proporcional à base acadêmica. E acredito que este desequilíbrio está na raiz dos problemas de ciência e tecnologia brasileiros. Nós temos uma dificuldade em converter a educação de nossos estudantes em benefício do país”, afirmou Carlos Henrique, que é diretor científico da fundação paulista.
   Carlos Henrique lembrou que cerca de 10 mil doutores são formados ao ano no Brasil e que a Unicamp é a maior produtora de patentes no país, situação que não se repete no mundo. “Nenhum país que tenha uma economia saudável tem uma universidade nessa situação. São as indústrias que produzem novas tecnologias. Nos Estados Unidos 79% dos cientistas estão nas empresas. No Brasil, temos apenas 23% de nossos cientistas trabalhando fora das universidades”, explicou Carlos Henrique que afirmou que também um dos motivos pra falta de pesquisa realizada pelas indústrias é o interesse dos empresários em outra forma de obter lucro. “Tem pouca pesquisa na indústria também porque os juros elevados são mais atraentes para o empresariado obter o seu lucro, que é a lógica de mercado”.
   Para o diretor da Fapesp o Brasil precisa desenvolver um projeto para levar novos cientistas para as indústrias que ainda não despertaram para essa realidade. “Uma das alternativas seria o estado brasileiro utilizar seu poder de compra pra incentivar a pesquisa nas indústrias”.
   Convidado a ser debatedor da conferência, o reitor Alex Fiúza de Melo levantou alguns questionamentos para serem discutidos. “Existe este descompasso entre a pesquisa científica no país e o crescimento da indústria. Qual a razão de tudo isso?”, questionou o reitor lembrando que a sociedade civil na Europa e mesmo nos Estados Unidos foi quem impulsionou a construção das universidades. “Temos ainda uma cultura de estado-dependência. As indústrias brasileiras não se sentem no dever de investir naquilo que acham que é dever do Estado”, afirmou.
   Carlos Henrique afirmou que acredita que pelo menos quatro fatores ajudam a entender esta realidade: a economia fechada onde por muito tempo a indústria não tem competitividade e, portanto, não é incentivada a inovar; a instabilidade política e economia do país; a falta de exposição internacional dos produtos brasileiros. “A comunidade acadêmica brasileira é globalizada bem antes da indústria. Esta falta de ambição de se expor no mercado exterior também é muito prejudicial”, afirmou Carlos Henrique que acredita que por muito tempo se propagou no país que as universidades iriam transferir tecnologias para as indústrias. “Isso pra mim é um equívoco oceânico”.
   Na segunda questão levantada, o reitor falou sobre a falta de uma visão de nação no país. “O Brasil precisa ter grandes universidades em todo o país. Temos de ter grandes universidades no nordeste, no norte, em todas as regiões. Mas não é o que vemos. A Amazônia não é projeto nacional. Temos de pensar que a inovação pode vir da floresta que pode ser mais lucrativa em pé. Mas isso é uma decisão política do país. Nós precisamos de um plano de desenvolvimento nacional”, afirmou.

Texto: SBPC-Pa

Publicado em: 18.07.2006 18:13